H REVISTA FRAUDE

Ano 14 | 2017 - nº15 - Salvador/Bahia

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Texto Wallace Cardozo
Ilustrações Alexandre Cabral (Aleco)
 

Popular na internet, revelação do teatro baiano e filho apegado. Essas três definições servem ao jovem Sulivã Bispo, 24, ator que dá vida a Mainha no YouTube e a diversos personagens nos palcos. A FRAUDE perfilou essa jovem promessa baiana.

DESDE PEQUENO

Filho de mãe artesã, Sulivã teve influência artística em sua formação desde cedo. Dona Marli, 55, levava o pequeno garoto a espetáculos do Bando de Teatro Olodum sempre que podia. "Achava importante valorizar algo que ele gostava de fazer e levá-lo ao teatro era um bom motivo", conta a mãe.

Em casa, o artista, precoce, já dava indícios do que estava por vir. "Sempre fui muito palhaço dentro de casa. Vestia as roupas de minha mãe, as mais artísticas, e quando tinha festa pegava o microfone, cantava", lembra o ator.  Dona Marli entrega: "talvez por isso ele tenha escolhido o teatro. Ele nunca foi uma criança que gostava de brincar de bola. Gostava muito de brinquedos ligados ao som".

Aos 16 anos, em 2009, Sulivã começou a fazer teatro no Gruporacaso, que funcionava no Colégio Estadual Presidente Costa e Silva, na Ribeira, e não parou mais. No grupo, participou de algumas peças, como Tropicália e Francisco da Paz. De lá, o ator retornou ao Bando de Teatro Olodum, não mais como espectador, mas como artista. No Bando, atuou em montagens renomadas, a exemplo de Ó Paí, Ó e Áfricas. Mais recentemente,também fez apresentações com a premiada peça Rebola e sua apresentação solo Kaiala. "Já fiz um bocado [de peças]. Não tenho tudo direitinho na mente agora, mas eu já fiz muitas", diz.

 

TODO TRABALHO QUE FAÇO É ESPELHO: ELE FALA DE MIM E DO MEU POVO PRETO

 

 

Texto Wallace Cardozo
Ilustrações Alexandre Cabral (Aleco)
 

Popular na internet, revelação do teatro baiano e filho apegado. Essas três definições servem ao jovem Sulivã Bispo, 24, ator que dá vida a Mainha no YouTube e a diversos personagens nos palcos. A FRAUDE perfilou essa jovem promessa baiana.

DESDE PEQUENO

Filho de mãe artesã, Sulivã teve influência artística em sua formação desde cedo. Dona Marli, 55, levava o pequeno garoto a espetáculos do Bando de Teatro Olodum sempre que podia. "Achava importante valorizar algo que ele gostava de fazer e levá-lo ao teatro era um bom motivo", conta a mãe.

Em casa, o artista, precoce, já dava indícios do que estava por vir. "Sempre fui muito palhaço dentro de casa. Vestia as roupas de minha mãe, as mais artísticas, e quando tinha festa pegava o microfone, cantava", lembra o ator.  Dona Marli entrega: "talvez por isso ele tenha escolhido o teatro. Ele nunca foi uma criança que gostava de brincar de bola. Gostava muito de brinquedos ligados ao som".

Aos 16 anos, em 2009, Sulivã começou a fazer teatro no Gruporacaso, que funcionava no Colégio Estadual Presidente Costa e Silva, na Ribeira, e não parou mais. No grupo, participou de algumas peças, como Tropicália e Francisco da Paz. De lá, o ator retornou ao Bando de Teatro Olodum, não mais como espectador, mas como artista. No Bando, atuou em montagens renomadas, a exemplo de Ó Paí, Ó e Áfricas. Mais recentemente,também fez apresentações com a premiada peça Rebola e sua apresentação solo Kaiala. "Já fiz um bocado [de peças]. Não tenho tudo direitinho na mente agora, mas eu já fiz muitas", diz.

 

TODO TRABALHO QUE FAÇO É ESPELHO: ELE FALA DE MIM E DO MEU POVO PRETO

A dedicação já rendeu ao ator bons frutos: em 2016, venceu Melhor Ator do Ano, no concurso Melhores do Ano, organizado pela transformista soteropolitana Valerie O'hara, e em 2017, concorreu ao prêmio Braskem para Melhor Ator, por atuações em Romeu e Julieta, Kaiala e Rebola. Dona Marli sente orgulho deste sucesso, apesar de ainda não ter se acostumado com a ascensão. "Tem momentos que fico um pouco assustada pela rapidez como tudo está acontecendo, mas fico muito feliz e orgulhosa pelo reconhecimento do seu trabalho", admite a artesã.

 

 

A dedicação já rendeu ao ator bons frutos: em 2016, venceu Melhor Ator do Ano, no concurso Melhores do Ano, organizado pela transformista soteropolitana Valerie O'hara, e em 2017, concorreu ao prêmio Braskem para Melhor Ator, por atuações em Romeu e Julieta, Kaiala e Rebola. Dona Marli sente orgulho deste sucesso, apesar de ainda não ter se acostumado com a ascensão. "Tem momentos que fico um pouco assustada pela rapidez como tudo está acontecendo, mas fico muito feliz e orgulhosa pelo reconhecimento do seu trabalho", admite a artesã.

 

 

PRETO NO BRANCO

Desde que veio ao mundo, em 1993, Sulivã mora com a mãe no bairro do Curuzu, em Salvador. Também neste bairro fica a sede do primeiro bloco afro do Brasil, o Ilê Aiyê, que teve grande influência na formação do ator. "Desde pequeno, estou perto de um batuque e isso sempre me fortaleceu, tanto no processo de autoestima quanto no processo cultural", afirma.

Além do Ilê Aiyê e do Bando de Teatro Olodum, ele foi estudante do Instituto Cultural Steve Biko, instituições engajadas com a luta contra o racismo. Tudo isso embasou seu posicionamento político frente a causas sociais, raciais, religiosas e sexuais. "Todo trabalho que eu faço é espelho de verdade, ele fala de mim, do meu povo preto, do povo afrodescendente", comenta o ator. Sulivã diz, ainda, que "utiliza da arte para combater intolerâncias com elegância", inserindo em seus personagens as questões que defende.

Na peça Rebola, por exemplo, dialoga sobre os direitos LGBT e interpreta a personagem Koanza, pela qual tem grande afeição. "Koanza é minha drag [queen]. Uma drag preta e afrocentrada que me marcou muito porque, para o preto, colocar uma unha, um salto e um vestido é muito mais difícil.  Lidamos com a homofobia e com o racismo também", explica.

Nem só de trabalho e militância vive o homem. Nas horas vagas, Sulivã gosta de ler, assistir peças, novelas e filmes, namorar e também de ter os amigos sempre por perto. "Eu sou taurino, então gosto muito de amizades fiéis", justifica. Quando ouve música, a preferência é por samba, músicas afro, axé, jazz, reggae e pop.

Conseguir horas vagas para seus hobbies, porém, não é fácil. Além de ator, ele é arte-educador, estudante (faz licenciatura em Teatro, na UFBA), técnico em vestuário e, quando pode, aventureiro na arte do artesanato. Mesmo com tantos afazeres, Sulivã está satisfeito com tudo isso, pois enxerga a si mesmo como "potencializador de uma juventude de maioria preta que vem sendo dizimada e precisa ter outros segmentos artísticos".

 

 

DESDE PEQUENO ESTOU PERTO DE UM BATUQUE E ISSO SEMPRE ME FORTALECEU

 

PRETO NO BRANCO

Desde que veio ao mundo, em 1993, Sulivã mora com a mãe no bairro do Curuzu, em Salvador. Também neste bairro fica a sede do primeiro bloco afro do Brasil, o Ilê Aiyê, que teve grande influência na formação do ator. "Desde pequeno, estou perto de um batuque e isso sempre me fortaleceu, tanto no processo de autoestima quanto no processo cultural", afirma.

Além do Ilê Aiyê e do Bando de Teatro Olodum, ele foi estudante do Instituto Cultural Steve Biko, instituições engajadas com a luta contra o racismo. Tudo isso embasou seu posicionamento político frente a causas sociais, raciais, religiosas e sexuais. "Todo trabalho que eu faço é espelho de verdade, ele fala de mim, do meu povo preto, do povo afrodescendente", comenta o ator. Sulivã diz, ainda, que "utiliza da arte para combater intolerâncias com elegância", inserindo em seus personagens as questões que defende.

Na peça Rebola, por exemplo, dialoga sobre os direitos LGBT e interpreta a personagem Koanza, pela qual tem grande afeição. "Koanza é minha drag [queen]. Uma drag preta e afrocentrada que me marcou muito porque, para o preto, colocar uma unha, um salto e um vestido é muito mais difícil.  Lidamos com a homofobia e com o racismo também", explica.

Nem só de trabalho e militância vive o homem. Nas horas vagas, Sulivã gosta de ler, assistir peças, novelas e filmes, namorar e também de ter os amigos sempre por perto. "Eu sou taurino, então gosto muito de amizades fiéis", justifica. Quando ouve música, a preferência é por samba, músicas afro, axé, jazz, reggae e pop.

Conseguir horas vagas para seus hobbies, porém, não é fácil. Além de ator, ele é arte-educador, estudante (faz licenciatura em Teatro, na UFBA), técnico em vestuário e, quando pode, aventureiro na arte do artesanato. Mesmo com tantos afazeres, Sulivã está satisfeito com tudo isso, pois enxerga a si mesmo como "potencializador de uma juventude de maioria preta que vem sendo dizimada e precisa ter outros segmentos artísticos".

 

 

DESDE PEQUENO ESTOU PERTO DE UM BATUQUE E ISSO SEMPRE ME FORTALECEU

 

OXE, VOLTE AÍ!

Grande parcela da visibilidade que Sulivã está alcançando é fruto do sucesso do canal Frases de Mainha, programa humorístico para o YouTube que brinca com situações cotidianas vivenciadas nas relações entre mãe e filho, com uma grande pitada de baianidade. O canal surgiu a partir de uma página no Facebook de mesmo nome, criada em 2016 pelo designer Erick Paz, 28, que postava cards contendo frases típicas das mães baianas. Com o sucesso, surgiu a ideia de produzir uma websérie, e Erick, criador da página, falou a respeito com Thiago Almasy, 28, também ator do Bando de Teatro Olodum.

Thiago e Sulivã são amigos desde 2013. Ambos moradores do mesmo bairro, estão sempre visitando um ao outro e, num desses encontros, Thiago apresentou ao amigo a proposta de interpretar a "Mainha" de seu personagem "Júnior", ainda no processo de criação quando fez a sugestão. Sulivã aceitou o desafio para participar e o projeto estourou nas redes sociais.

Sulivã diz que Mainha, personagem principal do canal, representa mães solteiras, de realidade periférica, e que, apesar de todas as dificuldades que a vida lhes oferece, não perdem o bom humor e

 

 

sabem conduzir a educação de seus filhos com maestria. "Em Frases de Mainha eu falo de minha avó, falo de minha mãe, falo das mulheres pretas desse Brasil", afirma.

O bom humor de Mainha às vezes faz o restante da equipe perder a concentração e cair na risada. "Geralmente eu dou risada porque Sulivã é muito engraçado. Às vezes ele tem uns rompantes meio inesperados e aí o set inteiro acaba dando risada", confessa Thiago. Mas o jeito espalhafatoso de Mainha não tem muito a ver com Dona Marli. "Eu me acho uma pessoa bastante tranquila e Mainha é muito ‘arretada’", defende-se.

Frases de Mainha é sucesso indiscutível nas telas dos computadores e smartphones - e também nas ruas. Sulivã conta que sente satisfação ao ser reconhecido por algum fã enquanto anda pela cidade. Apesar de jovem, ele tem noção da responsabilidade que carrega. "É muito bacana porque todo trabalho que eu faço é espelho de verdade: ele fala de mim e do meu povo preto. Ter esse povo me reconhecendo é muito bom", orgulha-se.

OXE, VOLTE AÍ!

Grande parcela da visibilidade que Sulivã está alcançando é fruto do sucesso do canal Frases de Mainha, programa humorístico para o YouTube que brinca com situações cotidianas vivenciadas nas relações entre mãe e filho, com uma grande pitada de baianidade. O canal surgiu a partir de uma página no Facebook de mesmo nome, criada em 2016 pelo designer Erick Paz, 28, que postava cards contendo frases típicas das mães baianas. Com o sucesso, surgiu a ideia de produzir uma websérie, e Erick, criador da página, falou a respeito com Thiago Almasy, 28, também ator do Bando de Teatro Olodum.

Thiago e Sulivã são amigos desde 2013. Ambos moradores do mesmo bairro, estão sempre visitando um ao outro e, num desses encontros, Thiago apresentou ao amigo a proposta de interpretar a "Mainha" de seu personagem "Júnior", ainda no processo de criação quando fez a sugestão. Sulivã aceitou o desafio para participar e o projeto estourou nas redes sociais.

Sulivã diz que Mainha, personagem principal do canal, representa mães solteiras, de realidade periférica, e que, apesar de todas as dificuldades que a vida lhes oferece, não perdem o bom humor e

 

 

sabem conduzir a educação de seus filhos com maestria. "Em Frases de Mainha eu falo de minha avó, falo de minha mãe, falo das mulheres pretas desse Brasil", afirma.

O bom humor de Mainha às vezes faz o restante da equipe perder a concentração e cair na risada. "Geralmente eu dou risada porque Sulivã é muito engraçado. Às vezes ele tem uns rompantes meio inesperados e aí o set inteiro acaba dando risada", confessa Thiago. Mas o jeito espalhafatoso de Mainha não tem muito a ver com Dona Marli. "Eu me acho uma pessoa bastante tranquila e Mainha é muito ‘arretada’", defende-se.

Frases de Mainha é sucesso indiscutível nas telas dos computadores e smartphones - e também nas ruas. Sulivã conta que sente satisfação ao ser reconhecido por algum fã enquanto anda pela cidade. Apesar de jovem, ele tem noção da responsabilidade que carrega. "É muito bacana porque todo trabalho que eu faço é espelho de verdade: ele fala de mim e do meu povo preto. Ter esse povo me reconhecendo é muito bom", orgulha-se.

 

 

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