H REVISTA FRAUDE

Ano 15 | 2018 - nº16 - Salvador/Bahia

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Grupos minoritários alcançam visibilidade com seus veículos de comunicação

Texto Bianca Carneiro e Daniel Brito
Fotos Eduardo Bastos e Fernanda Santos/Petcom

Grupos minoritários alcançam visibilidade com seus veículos de comunicação

Texto Bianca Carneiro e Daniel Brito
Fotos Eduardo Bastos e Fernanda Santos/Petcom

No ano de 2005, durante a Semana Nacional de Luta pela Democratização da Comunicação, estudantes de diversas faculdades de comunicação de Salvador se uniram para a criação de um coletivo. O resultado foi a concepção da ONG Instituto Mídia Étnica, que busca a integração de minorias na comunicação, especialmente os afrodescendentes. “Estávamos inconformados com a visibilidade do negro na mídia e, a partir disso, passamos a pautar a sua inserção”, afirma Rosalvo Barbosa, 37, coordenador de audiovisual e membro da entidade. Desse esforço, nasce também o portal de notícia Correio Nagô.

O Correio Nagô é um exemplo de mídia alternativa. Essa denominação se dá a veículos de comunicação que se diferenciam ao propor narrativas por vezes ausentes nos veículos midiáticos mais conhecidos, por ter o enfrentamento de preconceitos como determinante na escolha dos fatos noticiados.

“Em nenhum momento dizemos que não temos um lado. Todo veículo de comunicação tem um lado”, explica Dominique Azevedo, 33, jornalista do portal Correio Nagô. “O nosso diferencial é o recorte. Temos uma visão interseccional, com pensamento em marcadores sociais que se relacionam — como raça, gênero, sexualidade. Não somos melhores ou piores, apenas trabalhamos com perspectivas diferentes”.

 

PESSOAS QUE ANTES ERAM RETRATADAS APENAS DE FORMA NEGATIVA NAS MÍDIAS DE MASSA, HOJE ENCONTRAM NOVAS POSSIBLIDADES DE MUDAR SUA IMAGEM PERANTE A SOCIEDADE.

 

 

 

 

No ano de 2005, durante a Semana Nacional de Luta pela Democratização da Comunicação, estudantes de diversas faculdades de comunicação de Salvador se uniram para a criação de um coletivo. O resultado foi a concepção da ONG Instituto Mídia Étnica, que busca a integração de minorias na comunicação, especialmente os afrodescendentes. “Estávamos inconformados com a visibilidade do negro na mídia e, a partir disso, passamos a pautar a sua inserção”, afirma Rosalvo Barbosa, 37, coordenador de audiovisual e membro da entidade. Desse esforço, nasce também o portal de notícia Correio Nagô.

O Correio Nagô é um exemplo de mídia alternativa. Essa denominação se dá a veículos de comunicação que se diferenciam ao propor narrativas por vezes ausentes nos veículos midiáticos mais conhecidos, por ter o enfrentamento de preconceitos como determinante na escolha dos fatos noticiados.

“Em nenhum momento dizemos que não temos um lado. Todo veículo de comunicação tem um lado”, explica Dominique Azevedo, 33, jornalista do portal Correio Nagô. “O nosso diferencial é o recorte. Temos uma visão interseccional, com pensamento em marcadores sociais que se relacionam — como raça, gênero, sexualidade. Não somos melhores ou piores, apenas trabalhamos com perspectivas diferentes”.

 

PESSOAS QUE ANTES ERAM RETRATADAS APENAS DE FORMA NEGATIVA NAS MÍDIAS DE MASSA, HOJE ENCONTRAM NOVAS POSSIBLIDADES DE MUDAR SUA IMAGEM PERANTE A SOCIEDADE.

 

 

 

 

 

 

O NOSSO DIFERENCIAL É O RECORTE. NÃO SOMOS MELHORES OU PIORES, APENAS TRABALHAMOS COM PERSPECTIVAS DIFERENTES.

 

Esses veículos não apenas abordam histórias de pessoas socialmente excluídas, mas também têm, dentro de seu processo de produção, a participação delas. Assim é produzido o portal Dois Terços, criado pelo fotógrafo Genilson Coutinho, 40, e dois amigos. O site, feito por e para pessoas LGBT+, trata de questões de gênero e sexualidade, além de trazer notícias relacionadas a esse assunto.

Fazer parte da minoria LGBT+ e partilhar das suas dificuldades é essencial para conseguir credibilidade nas informações transmitidas, conta o criador do site.  “Acredito que a grande diferença do que produzimos é o fato de entendermos o que é necessário dizer ou escrever. O nosso objetivo consiste em denunciar, noticiar e dar visibilidade ao movimento LGBT+ da nossa cidade e também de outros estados”, afirma.

A página é considerada pioneira na abordagem da temática e hoje é referência para outros portais sobre o tema. “É muito importante perceber o reconhecimento da sociedade ao ver que somos um veículo de militância, e que recebemos as demandas do nosso movimento — eles podem se sentir representados na cidade”, aponta Genilson.

 

 

O NOSSO DIFERENCIAL É O RECORTE. NÃO SOMOS MELHORES OU PIORES, APENAS TRABALHAMOS COM PERSPECTIVAS DIFERENTES.

 

Esses veículos não apenas abordam histórias de pessoas socialmente excluídas, mas também têm, dentro de seu processo de produção, a participação delas. Assim é produzido o portal Dois Terços, criado pelo fotógrafo Genilson Coutinho, 40, e dois amigos. O site, feito por e para pessoas LGBT+, trata de questões de gênero e sexualidade, além de trazer notícias relacionadas a esse assunto.

Fazer parte da minoria LGBT+ e partilhar das suas dificuldades é essencial para conseguir credibilidade nas informações transmitidas, conta o criador do site.  “Acredito que a grande diferença do que produzimos é o fato de entendermos o que é necessário dizer ou escrever. O nosso objetivo consiste em denunciar, noticiar e dar visibilidade ao movimento LGBT+ da nossa cidade e também de outros estados”, afirma.

A página é considerada pioneira na abordagem da temática e hoje é referência para outros portais sobre o tema. “É muito importante perceber o reconhecimento da sociedade ao ver que somos um veículo de militância, e que recebemos as demandas do nosso movimento — eles podem se sentir representados na cidade”, aponta Genilson.

PORTAIS CULTURAIS

Além da produção de conteúdo jornalístico, estas mídias investem em projetos que as aproximam de seu público-alvo. Os debates, oficinas e eventos que oferecem, além de serem espaços de interação, se relacionam com o combate às opressões, que é objetivo desses veículos. Genilson e outros colaboradores do Dois Terços, por exemplo, promovem projetos sociais onde realizam debates e palestras acerca da temática LGBT+ em cinemas, escolas e universidades. “Temos esses projetos para estar mais próximos do nosso público, levando também campanhas de combate a LGBTfobia para reforçar nossa luta”, afirma o fotógrafo.

A ONG Mídia Étnica, da qual faz parte o portal Correio Nagô, possui um escritório colaborativo voltado para afroempreendedores, um espaço destinado para atividades de robótica, programação, desenvolvimento de softwares. Além disso, disponibiliza sua estrutura para realização de eventos e oficinas — que podem gerar pautas para o portal. “Aqui ocorrem muitos eventos que tratam de inovação política e estética negra”, afirma Dominique.

A perspectiva cultural também é determinante para o portal NORDESTeuSOU fazer a escolha de suas pautas. Nas palavras de Saulo Mário, 29, analista de sistemas e diretor-executivo do site: “nós abordamos o verdadeiro Nordeste de Amaralina. O da capoeira de Mestre Bimba, do samba de roda de Toti Gira, da negritude de Guiguio do Ilê, dos versos rimados do Mr. Armeng, dos grandes desfiles carnavalescos do Diplomata de Amaralina”.

Geovana Carvalho, 18, auxiliar-administrativa e moradora do bairro da Santa Cruz, próximo ao Nordeste de Amaralina, acompanha o portal e afirma: “o site é importante para mim e para minha comunidade porque traz uma realidade positiva do nosso bairro”.

 

 

 

PORTAIS CULTURAIS

Além da produção de conteúdo jornalístico, estas mídias investem em projetos que as aproximam de seu público-alvo. Os debates, oficinas e eventos que oferecem, além de serem espaços de interação, se relacionam com o combate às opressões, que é objetivo desses veículos. Genilson e outros colaboradores do Dois Terços, por exemplo, promovem projetos sociais onde realizam debates e palestras acerca da temática LGBT+ em cinemas, escolas e universidades. “Temos esses projetos para estar mais próximos do nosso público, levando também campanhas de combate a LGBTfobia para reforçar nossa luta”, afirma o fotógrafo.

A ONG Mídia Étnica, da qual faz parte o portal Correio Nagô, possui um escritório colaborativo voltado para afroempreendedores, um espaço destinado para atividades de robótica, programação, desenvolvimento de softwares. Além disso, disponibiliza sua estrutura para realização de eventos e oficinas — que podem gerar pautas para o portal. “Aqui ocorrem muitos eventos que tratam de inovação política e estética negra”, afirma Dominique.

A perspectiva cultural também é determinante para o portal NORDESTeuSOU fazer a escolha de suas pautas. Nas palavras de Saulo Mário, 29, analista de sistemas e diretor-executivo do site: “nós abordamos o verdadeiro Nordeste de Amaralina. O da capoeira de Mestre Bimba, do samba de roda de Toti Gira, da negritude de Guiguio do Ilê, dos versos rimados do Mr. Armeng, dos grandes desfiles carnavalescos do Diplomata de Amaralina”.

Geovana Carvalho, 18, auxiliar-administrativa e moradora do bairro da Santa Cruz, próximo ao Nordeste de Amaralina, acompanha o portal e afirma: “o site é importante para mim e para minha comunidade porque traz uma realidade positiva do nosso bairro”.

 

 

 

A importância desses portais de mídia alternativa é mostrada no relatório Ponto de Inflexão, publicado, em 2017, pela organização sem fins lucrativos americana SembraMedia. “Em toda a América Latina, os meios digitais independentes estão cobrindo comunidades desatendidas, produzindo conteúdo original e escrevendo histórias sobre assuntos que antes eram tabus”. Além disso, o relatório também aponta que o crescimento dessas organizações independentes pode ser o reflexo de uma nova geração de leitores, que busca informações livres da influência das elites empresariais e dos governos.

 

A importância desses portais de mídia alternativa é mostrada no relatório Ponto de Inflexão, publicado, em 2017, pela organização sem fins lucrativos americana SembraMedia. “Em toda a América Latina, os meios digitais independentes estão cobrindo comunidades desatendidas, produzindo conteúdo original e escrevendo histórias sobre assuntos que antes eram tabus”. Além disso, o relatório também aponta que o crescimento dessas organizações independentes pode ser o reflexo de uma nova geração de leitores, que busca informações livres da influência das elites empresariais e dos governos.

 

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