H REVISTA FRAUDE

Ano 13 | 2016 - nº14 - Salvador/Bahia

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Cultura de baba

O futebol amador praticado em vários pontos da cidade

texto Renato Meira e Thiago Conceição
fotos Caíque Bouzas, Cícero Cotrim/Labfoto

A bola rola e marca o início do tradicional baba* em Salvador. No barro, areia, gramado ou asfalto, ela passa de pé em pé a caminho do gol. As regras do baba variam de acordo com o espaço, número de times e quantidade de pessoas. Todos são juízes e o grito funciona como apito. A velha expressão “a de fora* é minha!” serve como código para avisar qual time vai entrar no lugar da equipe derrotada. Mas se a discussão atrasar o desenrolar da partida, “segue o baba!” é a frase mais adequada.

Na década de 20, nas comunidades pobres da cidade, a bola era feita com bexigas de boi e crinas de cavalos. O líquido viscoso que era liberado pela bexiga durante o processo de confecção da bola era chamado de baba, termo que passou a apelidar a prática do futebol amador e com o tempo se popularizou por toda a cidade.

 

 

 

texto Renato Meira e Thiago Conceição
fotos Caíque Bouzas, Cícero Cotrim/Labfoto

A bola rola e marca o início do tradicional baba* em Salvador. No barro, areia, gramado ou asfalto, ela passa de pé em pé a caminho do gol. As regras do baba variam de acordo com o espaço, número de times e quantidade de pessoas. Todos são juízes e o grito funciona como apito. A velha expressão “a de fora* é minha!” serve como código para avisar qual time vai entrar no lugar da equipe derrotada. Mas se a discussão atrasar o desenrolar da partida, “segue o baba!” é a frase mais adequada.

Na década de 20, nas comunidades pobres da cidade, a bola era feita com bexigas de boi e crinas de cavalos. O líquido viscoso que era liberado pela bexiga durante o processo de confecção da bola era chamado de baba, termo que passou a apelidar a prática do futebol amador e com o tempo se popularizou por toda a cidade.

 

 

 

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É SEMPRE AQUELA CORRERIA: TRABALHA, CUIDA DE CASA, DO FILHO, E VEM PARA O BABA. NINGUÉM DEIXA DE VIR 
ESTRELA

 

 

Na quadra ou no campo

Na quadra do condomínio Asa, no Trobogy, o baba das sete horas da manhã atrasou por causa da chuva. O domingo nublado, entretanto, não desmotivou as jogadoras do Poderosas Futebol Clube – PFC. O time, formado em 2015 por moradoras do bairro, é coordenado pelas irmãs Rosiane, 42, estudante de educação física, conhecida como Rose, e Tereza da Silva, 51, funcionária pública, conhecida como Estrela. Elas jogavam no baba masculino, mas após perceberem que as mulheres que costumavam acompanhar as partidas dos maridos também tinham vontade de participar, resolveram criar o próprio time.

A distribuição das jogadoras na quadra faz parte do organizado esquema tático do grupo. O ritmo acelerado da troca de passes reflete o entrosamento dentro e fora de campo. “Nos finais de semana a gente sempre se reúne. Elas já fazem parte da minha família", conta Thiale Andrade, 26, enfermeira, moradora do condomínio Mirante do Trobogy, em frente ao Asa. A afinidade técnica da equipe é resultado do treinamento elaborado por Rose e Estrela, que já atuaram profissionalmente nos times do Clube Baiano de Tênis e da Universidade Católica do Salvador - UCSAL. As irmãs também treinam crianças da região da Avenida Paralela na Escolinha de Futebol Asa – EFA, projeto criado por elas no ano de 2003.

O campo da Vila 2 de Julho é a casa da EFA. No chão de barro, garotos driblam cones e se aquecem para o baba. A camisa vermelha da escolinha é longa e cobre quase todo o corpo das crianças. Meiões e chuteiras completam o uniforme. A arbitragem fica por conta de Rose que, entre gritos e acenos, guia os jovens a cada lance. O terreno elevado e a falta de alambrados fazem a bola chutada longe do gol rolar ribanceira abaixo. É o momento no qual a partida para e várias crianças descem correndo para buscar a bola. O retorno para o campo é rápido porque os reservas precisam jogar. A lógica de rodízio com os meninos do banco garante a participação de todo o grupo.

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É SEMPRE AQUELA CORRERIA: TRABALHA, CUIDA DE CASA, DO FILHO, E VEM PARA O BABA. NINGUÉM DEIXA DE VIR 
ESTRELA

 

 

Na quadra ou no campo

Na quadra do condomínio Asa, no Trobogy, o baba das sete horas da manhã atrasou por causa da chuva. O domingo nublado, entretanto, não desmotivou as jogadoras do Poderosas Futebol Clube – PFC. O time, formado em 2015 por moradoras do bairro, é coordenado pelas irmãs Rosiane, 42, estudante de educação física, conhecida como Rose, e Tereza da Silva, 51, funcionária pública, conhecida como Estrela. Elas jogavam no baba masculino, mas após perceberem que as mulheres que costumavam acompanhar as partidas dos maridos também tinham vontade de participar, resolveram criar o próprio time.

A distribuição das jogadoras na quadra faz parte do organizado esquema tático do grupo. O ritmo acelerado da troca de passes reflete o entrosamento dentro e fora de campo. “Nos finais de semana a gente sempre se reúne. Elas já fazem parte da minha família", conta Thiale Andrade, 26, enfermeira, moradora do condomínio Mirante do Trobogy, em frente ao Asa. A afinidade técnica da equipe é resultado do treinamento elaborado por Rose e Estrela, que já atuaram profissionalmente nos times do Clube Baiano de Tênis e da Universidade Católica do Salvador - UCSAL. As irmãs também treinam crianças da região da Avenida Paralela na Escolinha de Futebol Asa – EFA, projeto criado por elas no ano de 2003.

O campo da Vila 2 de Julho é a casa da EFA. No chão de barro, garotos driblam cones e se aquecem para o baba. A camisa vermelha da escolinha é longa e cobre quase todo o corpo das crianças. Meiões e chuteiras completam o uniforme. A arbitragem fica por conta de Rose que, entre gritos e acenos, guia os jovens a cada lance. O terreno elevado e a falta de alambrados fazem a bola chutada longe do gol rolar ribanceira abaixo. É o momento no qual a partida para e várias crianças descem correndo para buscar a bola. O retorno para o campo é rápido porque os reservas precisam jogar. A lógica de rodízio com os meninos do banco garante a participação de todo o grupo.

 

Joyce Teodoro, 36, dona de casa, tenta observar da lateral do campo a movimentação do filho Nathan, 10.  “Quando faz o gol, mas não estou observando, ele fica irritado. ‘Mamãe você viu o gol?’ Respondo logo que sim”, brinca. O garoto, que joga há cerca de um ano na escolinha, concilia com ajuda da mãe a rotina de estudos com os babas que acontecem nas terças e quintas, às 14h, e no sábado às 7h. Depois do apito final, Rose enche dois sacos de pano com bolas, cones e coletes. Acompanhada pelas crianças, ela segue para a casa da irmã Estrela, onde todo o equipamento fica guardado.

 

Donos da bola

Silêncio na arquibancada. Na quadra, jogadores correm guiados pelo som de uma bola que contém guizos em seu interior. Os espectadores permanecem calados para que os atletas consigam escutar a bola. O barulho das comemorações só ocorre quando acontece um gol. As vozes dos jogadores e treinadores auxiliam na armação das jogadas no futebol de 5, modalidade do futebol destinada a deficientes visuais. Os time são formados por 5 jogadores, destes, os únicos que enxergam são os goleiros.

No bairro do Barbalho, o futebol de 5 foi adotado pelos alunos do Instituto de Cegos da Bahia – ICB como uma das principais atividades recreativas, praticado na instituição desde a década de 1990. “Na época em que não tínhamos a bola com guizo, fazíamos adaptações. Jogávamos com garrafas cheias de britas, para gerar barulho”, lembra Alex Mota, 37, jogador do time do ICB.

Alex faz uma caminhada de reconhecimento da quadra antes de mais uma partida da seleção do ICB, equipe criada no ano de 2003 para possibilitar a participação da instituição nas competições oficiais de futebol de 5. Na linha lateral, o treinador e fundador da equipe Gérson Coutinho, 61, passa as instruções aos seus atletas. Depois de pedir o silêncio dos espectadores, o juiz começa o jogo.

A bola gruda nos pés* de Jeferson da Conceição, o Jefinho, 27, que com habilidade se livra da marcação e rola para Cássio Reis, 28. A troca de passes foi feita pelos dois principais jogadores do time, atuais tetracampeões paralímpicos. No ataque, Selmir Nascimento, 38, encontra dificuldades para fugir dos zagueiros adversários. O atacante, que perdeu a visão aos 13 anos, vítima de acidente com guerra de espadas, precisou se adaptar às regras e técnicas do futebol de 5. “Eu sempre joguei bola. Quando perdi a visão, achei que não teria mais como jogar. Até que conheci o pessoal do instituto e aprendi como tudo funciona”, conta Selmir.

No Instituto de Cegos, os jovens pegam o baba em uma quadra que não tem dimensões oficiais. Diferente dos atletas da equipe principal, que treinam todas as segundas e quartas à tarde, e sábados pela manhã na quadra da União Metropolitana de Educação e Cultura - Unime, localizada na cidade de Lauro de Freitas, Região Metropolitana de Salvador. Desde 2011, a Unime fornece o espaço e material de treino para o ICB.

 

Boleiros* de São Lázaro

Material de treino não é preocupação para os amigos do Babonha, grupo criado em 2012 pelos estudantes de Ciências Sociais Mateus Aragão, 31, Marcos Costa, 42, Paulo Henrique, 23, e Yuri Valente, 27. Divididos em times com e sem camisa, os participantes do Babonha aguardam a chegada dos últimos jogadores ao campo do Escorre Faca, localizado no campus de São Lázaro da Universidade Federal da Bahia - UFBA. Encostados em árvores que rodeiam o campo, alguns integrantes fumam cigarros da planta que inspirou o nome do baba, a maconha.

Pouco a pouco, os titulares que faltavam chegam pelas trilhas que cortam a mata ao redor do Escorre Faca. A escalação final é composta por jogadores de diferentes bairros da cidade, Barra, Pituba, Barris, Calabar, Tancredo Neves. “A comunidade interage com o grupo.  O pessoal conheceu o espaço da universidade e ocupou. O Babonha vai além dos muros da UFBA”, conta Yuri.

No campo, as tentativas de criação de jogadas são feitas aos gritos, sempre acompanhadas de brincadeiras e apelidos. “Já teve briga, perda de bola, frases que a gente inventa na hora. É resenha para meses”, lembra Mateus. Depois de mais de 2 horas,  os amigos encerram o jogo.

Gritos de “cabô* o baba!” indicam os finais das partidas em Salvador. No caminho para casa, discussões e piadas sobre o resultado da pelada. O cansaço é visível no rosto dos jogadores, mas ele não desmotiva os atletas. Em breve estarão todos de volta para bater* o baba.

 

 

 

 

 

NA ÉPOCA EM QUE NÃO TÍNHAMOS A BOLA COM GUIZO, FAZÍAMOS ADAPTAÇÕES. JOGÁVAMOS COM GARRAFAS CHEIAS DE BRITAS, PARA GERAR BARULHO
ALEX MOTA

 

 

 

Joyce Teodoro, 36, dona de casa, tenta observar da lateral do campo a movimentação do filho Nathan, 10.  “Quando faz o gol, mas não estou observando, ele fica irritado. ‘Mamãe você viu o gol?’ Respondo logo que sim”, brinca. O garoto, que joga há cerca de um ano na escolinha, concilia com ajuda da mãe a rotina de estudos com os babas que acontecem nas terças e quintas, às 14h, e no sábado às 7h. Depois do apito final, Rose enche dois sacos de pano com bolas, cones e coletes. Acompanhada pelas crianças, ela segue para a casa da irmã Estrela, onde todo o equipamento fica guardado.

 

Donos da bola

Silêncio na arquibancada. Na quadra, jogadores correm guiados pelo som de uma bola que contém guizos em seu interior. Os espectadores permanecem calados para que os atletas consigam escutar a bola. O barulho das comemorações só ocorre quando acontece um gol. As vozes dos jogadores e treinadores auxiliam na armação das jogadas no futebol de 5, modalidade do futebol destinada a deficientes visuais. Os time são formados por 5 jogadores, destes, os únicos que enxergam são os goleiros.

No bairro do Barbalho, o futebol de 5 foi adotado pelos alunos do Instituto de Cegos da Bahia – ICB como uma das principais atividades recreativas, praticado na instituição desde a década de 1990. “Na época em que não tínhamos a bola com guizo, fazíamos adaptações. Jogávamos com garrafas cheias de britas, para gerar barulho”, lembra Alex Mota, 37, jogador do time do ICB.

Alex faz uma caminhada de reconhecimento da quadra antes de mais uma partida da seleção do ICB, equipe criada no ano de 2003 para possibilitar a participação da instituição nas competições oficiais de futebol de 5. Na linha lateral, o treinador e fundador da equipe Gérson Coutinho, 61, passa as instruções aos seus atletas. Depois de pedir o silêncio dos espectadores, o juiz começa o jogo.

A bola gruda nos pés* de Jeferson da Conceição, o Jefinho, 27, que com habilidade se livra da marcação e rola para Cássio Reis, 28. A troca de passes foi feita pelos dois principais jogadores do time, atuais tetracampeões paralímpicos. No ataque, Selmir Nascimento, 38, encontra dificuldades para fugir dos zagueiros adversários. O atacante, que perdeu a visão aos 13 anos, vítima de acidente com guerra de espadas, precisou se adaptar às regras e técnicas do futebol de 5. “Eu sempre joguei bola. Quando perdi a visão, achei que não teria mais como jogar. Até que conheci o pessoal do instituto e aprendi como tudo funciona”, conta Selmir.

No Instituto de Cegos, os jovens pegam o baba em uma quadra que não tem dimensões oficiais. Diferente dos atletas da equipe principal, que treinam todas as segundas e quartas à tarde, e sábados pela manhã na quadra da União Metropolitana de Educação e Cultura - Unime, localizada na cidade de Lauro de Freitas, Região Metropolitana de Salvador. Desde 2011, a Unime fornece o espaço e material de treino para o ICB.

 

Boleiros* de São Lázaro

Material de treino não é preocupação para os amigos do Babonha, grupo criado em 2012 pelos estudantes de Ciências Sociais Mateus Aragão, 31, Marcos Costa, 42, Paulo Henrique, 23, e Yuri Valente, 27. Divididos em times com e sem camisa, os participantes do Babonha aguardam a chegada dos últimos jogadores ao campo do Escorre Faca, localizado no campus de São Lázaro da Universidade Federal da Bahia - UFBA. Encostados em árvores que rodeiam o campo, alguns integrantes fumam cigarros da planta que inspirou o nome do baba, a maconha.

Pouco a pouco, os titulares que faltavam chegam pelas trilhas que cortam a mata ao redor do Escorre Faca. A escalação final é composta por jogadores de diferentes bairros da cidade, Barra, Pituba, Barris, Calabar, Tancredo Neves. “A comunidade interage com o grupo.  O pessoal conheceu o espaço da universidade e ocupou. O Babonha vai além dos muros da UFBA”, conta Yuri.

No campo, as tentativas de criação de jogadas são feitas aos gritos, sempre acompanhadas de brincadeiras e apelidos. “Já teve briga, perda de bola, frases que a gente inventa na hora. É resenha para meses”, lembra Mateus. Depois de mais de 2 horas,  os amigos encerram o jogo.

Gritos de “cabô* o baba!” indicam os finais das partidas em Salvador. No caminho para casa, discussões e piadas sobre o resultado da pelada. O cansaço é visível no rosto dos jogadores, mas ele não desmotiva os atletas. Em breve estarão todos de volta para bater* o baba.

 

 

 

 

 

NA ÉPOCA EM QUE NÃO TÍNHAMOS A BOLA COM GUIZO, FAZÍAMOS ADAPTAÇÕES. JOGÁVAMOS COM GARRAFAS CHEIAS DE BRITAS, PARA GERAR BARULHO
ALEX MOTA

 

 

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