H REVISTA FRAUDE

Ano 13 | 2016 - nº14 - Salvador/Bahia

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Liberdade da Feirinha

A rotina da Feira do Japão, uma tradição secular no bairro da Liberdade

texto Mallu Silva, Mateus Costa e Vivianne Marçal
fotos Marco Antônio e Mallu Silva/Labfoto

A Feira do Japão, presente há mais de 100 anos no bairro da Liberdade, é a confluência de diferentes identidades e gerações. A primeira vista, a rua Gonçalo Coelho parece não ter fim. Nesta via estreita, transversal à Estrada da Liberdade, as frutas e verduras expostas em bases de madeira sobre arranjos feitos com caixotes de plástico disputam espaço com o intenso fluxo de transeuntes. Evitar esbarrar em alguém se torna quase impossível, entre o cheiro de carne ao ar livre, os ruídos das vozes que negociam o preço das compras e a bagunça das barracas improvisadas.

De segunda a domingo, a feira apresenta composições diferentes. Sua ocupação desigual em dias da semana revela seu caráter diversificado, ao mesmo tempo perene e sazonal. Diversos feirantes têm ali a sua única oportunidade de renda, outros são atraídos de bairros mais distantes e cidades do interior para complementar o faturamento mensal durante o sábado, dia de maior movimento. No entanto, o que mais se destaca na Feira do Japão não são os produtos, nem os preços, é a pluralidade de formas que invoca a resistência a uma uniformização que sempre é proposta pela prefeitura.

 

texto Mallu Silva, Mateus Costa e Vivianne Marçal
fotos Marco Antônio e Mallu Silva/Labfoto

A Feira do Japão, presente há mais de 100 anos no bairro da Liberdade, é a confluência de diferentes identidades e gerações. A primeira vista, a rua Gonçalo Coelho parece não ter fim. Nesta via estreita, transversal à Estrada da Liberdade, as frutas e verduras expostas em bases de madeira sobre arranjos feitos com caixotes de plástico disputam espaço com o intenso fluxo de transeuntes. Evitar esbarrar em alguém se torna quase impossível, entre o cheiro de carne ao ar livre, os ruídos das vozes que negociam o preço das compras e a bagunça das barracas improvisadas.

De segunda a domingo, a feira apresenta composições diferentes. Sua ocupação desigual em dias da semana revela seu caráter diversificado, ao mesmo tempo perene e sazonal. Diversos feirantes têm ali a sua única oportunidade de renda, outros são atraídos de bairros mais distantes e cidades do interior para complementar o faturamento mensal durante o sábado, dia de maior movimento. No entanto, o que mais se destaca na Feira do Japão não são os produtos, nem os preços, é a pluralidade de formas que invoca a resistência a uma uniformização que sempre é proposta pela prefeitura.

 

 

 

Quem manda aqui?

A Feirinha, como é chamada pelos mais antigos, já passou por diversas tentativas de ordenamento e fiscalização. Uma das mais recentes aconteceu em 2003, quando todos os feirantes foram registrados e receberam barracas similares, com estruturas de metal desmontáveis. Com o tempo, as barracas foram desaparecendo e a feira voltou a ser o que era. Em 2014, uma nova tentativa de padronização foi realizada. Além de restringir a venda de frutas e verduras, a Semop (Secretaria Municipal de Ordem Pública) também pretendia organizar os espaços na rua principal do bairro, deixando as calçadas livres para os pedestres. Há 32 anos trabalhando na feira, a comerciante Marlúcia Brito Cruz, 59, relata que nenhuma tentativa vingou até agora. “A Feira já foi organizada, agora não é. Porque quem manda aqui são os feirantes”, afirma.

A tentativa mais recente ainda está em curso. A intenção da prefeitura é de realocar todos os feirantes licenciados no Mercado Municipal do Bairro da Liberdade, antiga Cesta do Povo, inaugurado em julho deste ano. O espaço conta com 18 boxes para lanchonete, restaurantes e outros tipos de comércios, além de ambiente para 50 barracas desmontáveis para venda de hortifruti. A mudança para o Mercado ainda não começou, mas preocupa os feirantes pelo tamanho do local. Até 2015, eram 205 barracas licenciadas pela Semop, responsável pela fiscalização da feira livre. Sônia Leandro, 89, é contra a realocação porque afirma que o espaço não tem estrutura. “Ninguém quer ir para um lugar que não tem movimento, nem segurança”. Hoje, sua tenda de frutas fica localizada na rua principal da Liberdade.

Quem manda aqui?

A Feirinha, como é chamada pelos mais antigos, já passou por diversas tentativas de ordenamento e fiscalização. Uma das mais recentes aconteceu em 2003, quando todos os feirantes foram registrados e receberam barracas similares, com estruturas de metal desmontáveis. Com o tempo, as barracas foram desaparecendo e a feira voltou a ser o que era. Em 2014, uma nova tentativa de padronização foi realizada. Além de restringir a venda de frutas e verduras, a Semop (Secretaria Municipal de Ordem Pública) também pretendia organizar os espaços na rua principal do bairro, deixando as calçadas livres para os pedestres. Há 32 anos trabalhando na feira, a comerciante Marlúcia Brito Cruz, 59, relata que nenhuma tentativa vingou até agora. “A Feira já foi organizada, agora não é. Porque quem manda aqui são os feirantes”, afirma.

A tentativa mais recente ainda está em curso. A intenção da prefeitura é de realocar todos os feirantes licenciados no Mercado Municipal do Bairro da Liberdade, antiga Cesta do Povo, inaugurado em julho deste ano. O espaço conta com 18 boxes para lanchonete, restaurantes e outros tipos de comércios, além de ambiente para 50 barracas desmontáveis para venda de hortifruti. A mudança para o Mercado ainda não começou, mas preocupa os feirantes pelo tamanho do local. Até 2015, eram 205 barracas licenciadas pela Semop, responsável pela fiscalização da feira livre. Sônia Leandro, 89, é contra a realocação porque afirma que o espaço não tem estrutura. “Ninguém quer ir para um lugar que não tem movimento, nem segurança”. Hoje, sua tenda de frutas fica localizada na rua principal da Liberdade.

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