texto Mallu Silva, Mateus Costa e Vivianne Marçal
fotos Marco Antônio e Mallu Silva/Labfoto
A Feira do Japão, presente há mais de 100 anos no bairro da Liberdade, é a confluência de diferentes identidades e gerações. A primeira vista, a rua Gonçalo Coelho parece não ter fim. Nesta via estreita, transversal à Estrada da Liberdade, as frutas e verduras expostas em bases de madeira sobre arranjos feitos com caixotes de plástico disputam espaço com o intenso fluxo de transeuntes. Evitar esbarrar em alguém se torna quase impossível, entre o cheiro de carne ao ar livre, os ruídos das vozes que negociam o preço das compras e a bagunça das barracas improvisadas.
De segunda a domingo, a feira apresenta composições diferentes. Sua ocupação desigual em dias da semana revela seu caráter diversificado, ao mesmo tempo perene e sazonal. Diversos feirantes têm ali a sua única oportunidade de renda, outros são atraídos de bairros mais distantes e cidades do interior para complementar o faturamento mensal durante o sábado, dia de maior movimento. No entanto, o que mais se destaca na Feira do Japão não são os produtos, nem os preços, é a pluralidade de formas que invoca a resistência a uma uniformização que sempre é proposta pela prefeitura.
Quem manda aqui?
A Feirinha, como é chamada pelos mais antigos, já passou por diversas tentativas de ordenamento e fiscalização. Uma das mais recentes aconteceu em 2003, quando todos os feirantes foram registrados e receberam barracas similares, com estruturas de metal desmontáveis. Com o tempo, as barracas foram desaparecendo e a feira voltou a ser o que era. Em 2014, uma nova tentativa de padronização foi realizada. Além de restringir a venda de frutas e verduras, a Semop (Secretaria Municipal de Ordem Pública) também pretendia organizar os espaços na rua principal do bairro, deixando as calçadas livres para os pedestres. Há 32 anos trabalhando na feira, a comerciante Marlúcia Brito Cruz, 59, relata que nenhuma tentativa vingou até agora. “A Feira já foi organizada, agora não é. Porque quem manda aqui são os feirantes”, afirma.
A tentativa mais recente ainda está em curso. A intenção da prefeitura é de realocar todos os feirantes licenciados no Mercado Municipal do Bairro da Liberdade, antiga Cesta do Povo, inaugurado em julho deste ano. O espaço conta com 18 boxes para lanchonete, restaurantes e outros tipos de comércios, além de ambiente para 50 barracas desmontáveis para venda de hortifruti. A mudança para o Mercado ainda não começou, mas preocupa os feirantes pelo tamanho do local. Até 2015, eram 205 barracas licenciadas pela Semop, responsável pela fiscalização da feira livre. Sônia Leandro, 89, é contra a realocação porque afirma que o espaço não tem estrutura. “Ninguém quer ir para um lugar que não tem movimento, nem segurança”. Hoje, sua tenda de frutas fica localizada na rua principal da Liberdade.