H REVISTA FRAUDE

Ano 13 | 2016 - nº14 - Salvador/Bahia

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Traçados na pele preta

O tatuador Robson Finho fala sobre as influências do seu traçado, e do seu projeto mais recente, o #pelepretaTatuada

A falta de referências negras nos catálogos de tatuagem é um incômodo que acompanha o tatuador Robson “Finho” Caldas, 36, desde o início da sua carreira, há cerca de 15 anos. Com a intenção de preencher essa lacuna, Finho iniciou, em 2015, o projeto #PelePretaTatuada, com a divulgação das tatuagens feitas por ele em peles pretas, e com temáticas que quebram os paradigmas da tatuagem considerada tradicional. Sentado no chão do seu estúdio, o tatuador conversou com a Fraude sobre como suas influências artísticas e políticas refletem no seu trabalho.

A falta de referências negras nos catálogos de tatuagem é um incômodo que acompanha o tatuador Robson “Finho” Caldas, 36, desde o início da sua carreira, há cerca de 15 anos. Com a intenção de preencher essa lacuna, Finho iniciou, em 2015, o projeto #PelePretaTatuada, com a divulgação das tatuagens feitas por ele em peles pretas, e com temáticas que quebram os paradigmas da tatuagem considerada tradicional.

Sentado no chão do seu estúdio, o tatuador conversou com a Fraude sobre como suas influências artísticas e políticas refletem no seu trabalho.

A falta de referências negras nos catálogos de tatuagem é um incômodo que acompanha o tatuador Robson “Finho” Caldas, 36, desde o início da sua carreira, há cerca de 15 anos. Com a intenção de preencher essa lacuna, Finho iniciou, em 2015, o projeto #PelePretaTatuada, com a divulgação das tatuagens feitas por ele em peles pretas, e com temáticas que quebram os paradigmas da tatuagem considerada tradicional.

Sentado no chão do seu estúdio, o tatuador conversou com a Fraude sobre como suas influências artísticas e políticas refletem no seu trabalho.

texto Renato Meira e Vanessa Vergne
fotos Mallu Silva/Labfoto

Fraude: Qual é o principal diferencial do #pelepretatatuada em relação ao trabalho feito por outros tatuadores em peles negras?

Finho: O conceito. Em vários lugares vão existir bons tatuadores que trabalham bem com pele negra, mas o projeto problematiza não apenas a estética dos desenhos, ou modificações nos modelos tradicionais de tatuagem, mas traz as tatuagens em peles negras como referências de beleza. Referências de tatuagem sempre foram aqueles trabalhos  coloridos em peles muito claras, o #PelePretaTatuada promove uma quebra desse padrão, traz novos exemplos e cria outros referenciais.

Fraude: Foi no estúdio Álvaro Tattoo, um dos mais antigos em Salvador, localizado na Barra, que teve início a sua carreira na tatuagem. Como esse ambiente influenciou seu caminho como tatuador?

Finho: Eu conheci o Álvaro [Medrado] por volta de 1999 através de amigo em comum. De início eu fui somente para me tatuar, mas na época eu estava meio duro e comecei a fazer uns desenhos mais voltados para a tatuagem. Então ele me propôs uma troca entre meu trabalho por aulas de tatuagem.

Ele foi decisivo na minha trajetória. Foi ele quem me abriu as portas, e me deu liberdade para criar meus próprios desenhos. Naquela época era bem mais comum pessoas tatuarem desenhos tirados de revistas em quadrinho, de catálogos e dos quadros nas paredes do estúdio. Eu não acreditava que teria público para tatuagem autoral, mas isso foi crescendo em Salvador. Eu fui acompanhando essa trajetória. Muita gente começou a me procurar pelos meus desenhos, mesmo pessoas de outras cidades.

Fraude: Ao longo dos anos, você se relacionou com diversas formas de produção artística, como o punk e a ilustração. Atualmente, você atua no movimento hip hop, que reflete fortemente na estética do #PelePretaTatuada. Qual é o elemento que conecta essa trajetória?

Finho: Os projetos nos quais eu trabalho me puxam ora para um lado, ora para outro, mas ao mesmo tempo em que transito por linguagens diferentes, elas partem do mesmo princípio: a rua. A estética de centro de cidade, de prédio abandonado, de “sacizeiro”, de sirene, uns bagulhos depredados, que ao mesmo tempo têm umas paradas bonitonas do lado. Às vezes eu estou pintando mais, ou então passo uma época mais ligado à música, mas no final das contas são os mesmos aspectos da vida, com suas diversas facetas.

 

 

 

texto Renato Meira e Vanessa Vergne
fotos Mallu Silva/Labfoto

Fraude: Qual é o principal diferencial do #pelepretatatuada em relação ao trabalho feito por outros tatuadores em peles negras?

Finho: O conceito. Em vários lugares vão existir bons tatuadores que trabalham bem com pele negra, mas o projeto problematiza não apenas a estética dos desenhos, ou modificações nos modelos tradicionais de tatuagem, mas traz as tatuagens em peles negras como referências de beleza. Referências de tatuagem sempre foram aqueles trabalhos  coloridos em peles muito claras, o #PelePretaTatuada promove uma quebra desse padrão, traz novos exemplos e cria outros referenciais.

Fraude: Foi no estúdio Álvaro Tattoo, um dos mais antigos em Salvador, localizado na Barra, que teve início a sua carreira na tatuagem. Como esse ambiente influenciou seu caminho como tatuador?

Finho: Eu conheci o Álvaro [Medrado] por volta de 1999 através de amigo em comum. De início eu fui somente para me tatuar, mas na época eu estava meio duro e comecei a fazer uns desenhos mais voltados para a tatuagem. Então ele me propôs uma troca entre meu trabalho por aulas de tatuagem.

Ele foi decisivo na minha trajetória. Foi ele quem me abriu as portas, e me deu liberdade para criar meus próprios desenhos. Naquela época era bem mais comum pessoas tatuarem desenhos tirados de revistas em quadrinho, de catálogos e dos quadros nas paredes do estúdio. Eu não acreditava que teria público para tatuagem autoral, mas isso foi crescendo em Salvador. Eu fui acompanhando essa trajetória. Muita gente começou a me procurar pelos meus desenhos, mesmo pessoas de outras cidades.

Fraude: Ao longo dos anos, você se relacionou com diversas formas de produção artística, como o punk e a ilustração. Atualmente, você atua no movimento hip hop, que reflete fortemente na estética do #PelePretaTatuada. Qual é o elemento que conecta essa trajetória?

Finho: Os projetos nos quais eu trabalho me puxam ora para um lado, ora para outro, mas ao mesmo tempo em que transito por linguagens diferentes, elas partem do mesmo princípio: a rua. A estética de centro de cidade, de prédio abandonado, de “sacizeiro”, de sirene, uns bagulhos depredados, que ao mesmo tempo têm umas paradas bonitonas do lado. Às vezes eu estou pintando mais, ou então passo uma época mais ligado à música, mas no final das contas são os mesmos aspectos da vida, com suas diversas facetas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fraude: No final da década de 1990, você trabalhou na Estopim Records, e participou ativamente do cenário Punk de Salvador. Como o contato com esse movimento influenciou na sua carreira, e no #PelePretaTatuada?

Finho: O “faça você mesmo” do Punk sempre me influenciou, e toda a herança de engajamento que o Punk e o Hardcore me deixaram, tem relação com o #PelePretaTatuada. Hoje, inclusive, estou montando meu estúdio na sala onde funcionava a primeira sede da Estopim Records. Através do Punk eu conheci muito da literatura, quadrinhos e fanzines. O contato com essas referências chegou à minha tatuagem.

Fraude: Você já chegou em algum estúdio e se deparou com limitações para ter um desenho tatuado em sua pele por conta da sua cor?

Finho: Já ouvi muita gente relatando isso, de chegar em determinado estúdio e ficar até constrangido ao ouvir que não tem como ser feito por conta do seu tom de pele. Dei sorte de encontrar com tatuadores que não viram problema nisso e toparam fazer, logicamente entendendo as especificidades técnicas para trabalhar em pele negra, na forma como executar a tatuagem, nos contrastes, mesmo sendo tatuadores que não tinham essa discussão em seus trabalhos.

Fraude: Em seus desenhos é muito recorrente a presença de figuras femininas, essa característca de sua produção artística é impactada pela presença de sua companheira, a grafiteira Sista Kátia, em sua vida?

Finho: O que eu tento representar não é uma beleza única, eu tento fugir do padrão para mostrar que existem outras coisas além do que vemos o tempo

 

 

todo. Retrato pessoas normais, reais mesmo, mais altas, baixas, magras e gordas que usam as roupas que querem sem serem encanadas com isso, o que casa muito com o estilo de Kátia. Acho que ela enquanto inspiração está presente em tudo. Somos muito amigos, conversamos bastante Querendo ou não, acabo absorvendo várias ideias dela. As coisas que permeiam o mundo dela acabam fazendo parte da minha vida também.

Fraude: Você é vegano, não consome nada que tenha origem animal, e straight edge, defende a abstinência em relação à qualquer substâncias entorpecentes. Esse estilo de vida reflete no projeto #PelePretaTatuada?

Finho: O straight edge e o veganismo são posições políticas, antes de serem uma decisão de dieta. Não é simplesmente o que você ingere, ou o que veste. É você começar a colocar em xeque a sua maneira de pensar o trajeto feito por aquilo que chega ao seu prato. É muito mais interessante, por exemplo, que alguém compre um ovo de um feirante, do que um pacote de amaranto de uma subsidiária da Coca-Cola. Muitas vezes um produto não vem de origem animal, mas pode ter uma trajetória muito mais prejudicial até chegar ao seu prato.

A lógica do straight edge e do veganismo é parar para pensar o porquê das coisas serem como são, o porquê do normal ser comer carne, ou de ter que chapar para se divertir em uma festa. O #PelePretaTatuada é muito ligado a essa questão. É olhar para o processo que está estabelecido, mas fazer o seu próprio para ver no que é que dá. Em uma escala micro, essa é a minha forma de fazer política.

 

 

 

 

 

 

 

 

Fraude: No final da década de 1990, você trabalhou na Estopim Records, e participou ativamente do cenário Punk de Salvador. Como o contato com esse movimento influenciou na sua carreira, e no #PelePretaTatuada?

Finho: O “faça você mesmo” do Punk sempre me influenciou, e toda a herança de engajamento que o Punk e o Hardcore me deixaram, tem relação com o #PelePretaTatuada. Hoje, inclusive, estou montando meu estúdio na sala onde funcionava a primeira sede da Estopim Records. Através do Punk eu conheci muito da literatura, quadrinhos e fanzines. O contato com essas referências chegou à minha tatuagem.

Fraude: Você já chegou em algum estúdio e se deparou com limitações para ter um desenho tatuado em sua pele por conta da sua cor?

Finho: Já ouvi muita gente relatando isso, de chegar em determinado estúdio e ficar até constrangido ao ouvir que não tem como ser feito por conta do seu tom de pele. Dei sorte de encontrar com tatuadores que não viram problema nisso e toparam fazer, logicamente entendendo as especificidades técnicas para trabalhar em pele negra, na forma como executar a tatuagem, nos contrastes, mesmo sendo tatuadores que não tinham essa discussão em seus trabalhos.

Fraude: Em seus desenhos é muito recorrente a presença de figuras femininas, essa característca de sua produção artística é impactada pela presença de sua companheira, a grafiteira Sista Kátia, em sua vida?

Finho: O que eu tento representar não é uma beleza única, eu tento fugir do padrão para mostrar que existem outras coisas além do que vemos o tempo

 

 

todo. Retrato pessoas normais, reais mesmo, mais altas, baixas, magras e gordas que usam as roupas que querem sem serem encanadas com isso, o que casa muito com o estilo de Kátia. Acho que ela enquanto inspiração está presente em tudo. Somos muito amigos, conversamos bastante Querendo ou não, acabo absorvendo várias ideias dela. As coisas que permeiam o mundo dela acabam fazendo parte da minha vida também.

Fraude: Você é vegano, não consome nada que tenha origem animal, e straight edge, defende a abstinência em relação à qualquer substâncias entorpecentes. Esse estilo de vida reflete no projeto #PelePretaTatuada?

Finho: O straight edge e o veganismo são posições políticas, antes de serem uma decisão de dieta. Não é simplesmente o que você ingere, ou o que veste. É você começar a colocar em xeque a sua maneira de pensar o trajeto feito por aquilo que chega ao seu prato. É muito mais interessante, por exemplo, que alguém compre um ovo de um feirante, do que um pacote de amaranto de uma subsidiária da Coca-Cola. Muitas vezes um produto não vem de origem animal, mas pode ter uma trajetória muito mais prejudicial até chegar ao seu prato.

A lógica do straight edge e do veganismo é parar para pensar o porquê das coisas serem como são, o porquê do normal ser comer carne, ou de ter que chapar para se divertir em uma festa. O #PelePretaTatuada é muito ligado a essa questão. É olhar para o processo que está estabelecido, mas fazer o seu próprio para ver no que é que dá. Em uma escala micro, essa é a minha forma de fazer política.

 

 

 

 

 

 

 

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