texto Leonardo Costa
Publicado em 02.08.2021.
Esse título é original? Não, é um trocadilho infame, que muitos já devem ter pensado de algum modo, e que já foi utilizado por outros autores, desde charges1 a artigos acadêmicos2. Mas é um título que é a cara da Fraude, e nesse caso de um Petalhada, de algo que merece ser escrito.
Nos últimos anos não canso de repetir e de ouvir de pares sobre os problemas e tristezas que enfrentamos e visualizamos no âmbito das políticas públicas federais – em qualquer área e segmento. Afinal, o PowerPoint3 que foi eleito já não prometia muita coisa, e pelo visto vem cumprindo bem esse papel.
Mas vamos focar aqui numa das agruras recentes (que inclusive já foi perpassada por outras, como o incêndio que acometeu a Cinemateca…): a queima do servidor do CNPq. Seria uma queima de “arquivo” da ciência no Brasil? Algo que poderia até ser festejado por terraplanistas…
Fora do ar desde o dia 24 de julho de 20214 o Lattes, como era divulgado em seu site oficial, contava com mais de 3,5 milhões de currículos, divididos em distintas e múltiplas áreas e subáreas de conhecimento. Nessa plataforma, de acesso público e aberto, temos como visualizar, de forma individualizada, toda a produção e experiência acadêmica de diversas pessoas, desde níveis iniciais de formação até pesquisadores sêniors.
Também é possível, a partir desse enorme banco de dados, fazer pesquisas que demonstrem a coletividade dos campos de conhecimento. Isso foi apresentado recentemente em alguns capítulos do livro Cultura e Ciência de Dados5, organizado por mim e pela colega Renata Rocha.
Num dos capítulos, Explorações Cientométricas no Campo das Políticas Culturais, fizemos uma análise do campo de estudos das políticas culturais a partir de 3.537 currículos de doutores que em algum momento indexaram a expressão e suas correlatas. Pesquisa que foi possível graças ao trabalho de outros acadêmicos, nesse caso Jesús Mena-Chalco (UFABC), que criou o ScriptLattes – ferramenta que permitiu extrair todos os currículos para análise.
Ou seja, vejo algumas postagens, até de acadêmicos, que “brincam” com o apagão do CNPq, insinuando que muitos dos que reclamam dessa ausência não atualizam seu currículo há um bom tempo… Mas, tentando enxergar para além do seu próprio umbigo, o que temos aqui é algo grave. É a saída do ar de uma plataforma importante, lançada no ano de 1999, e que se tornou imprescindível para a ciência no nosso país.
Inclusive, a própria imprensa, muito se vale do Lattes quando quer checar se o que está ali é verídico ou não sobre algumas personalidades. Tivemos diversos casos recentes6 na atual gestão federal…
Enfim, no momento nos cabe apenas sentar e esperar que políticas públicas federais que eram geridas por diversos governos possam simplesmente ser retomadas?
1 Disponível em: http://eugenio-genio-ingenuo.blogspot.com/2010/09/cao-que-lattes-nao-morde.html. Acesso em: 02 ago. 2021.
2 Disponível em: http://periodicos.urca.br/ojs/index.php/MacREN/article/view/1424. Acesso em: 02 ago. 2021.
3 Disponível em: https://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2018/BR/BR/2022802018/280000614517/proposta_1534284632231.pdf. Acesso em: 02 ago. 2021.
4 Disponível em: https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/educalab/plataforma-lattes-da-cnpq-esta-fora-do-ar-ha-tres-dias-1.3115057. Acesso em: 02 ago. 2021.
5 Disponível em: https://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/33771. Acesso em: 02 ago. 2021.
6 Disponível em: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2020/06/28/quem-sao-os-ministros-de-bolsonaro-que-mentiram-ou-erraram-no-curriculo.htm. Acesso em: 02 ago. 2021.
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