O fenômeno dos fandoms na era das redes sociais
texto Isadora Sarno e Stella Ribeiro
multimídia Luiza Gonçalves
diagramação Eliomara Sousa
narração Matheus Vilas
colagem Isadora Sarno
Nos anos 90, muitos jovens fanáticos por música acompanhavam a Bizz, uma das maiores revistas musicais do Brasil. Foi através de suas publicações mensais inspiradas na Rolling Stone, que muitos fãs descobriram seus ídolos nacionais e internacionais. Com pouco acesso às bandas, mas ávidos para ouvir aqueles sons tão bem detalhados nas descrições, os jovens da época vasculhavam as lojas de discos até encontrarem um único álbum e enlouquecerem com aquelas inovações sonoras.
Dos trechos que não saíam da boca do povo, como “descendo na boquinha da garrafa”, “didididiê”, “complicada e perfeitinha”, até o “oh! Ana Juliaaaa”, os anos 90 marcaram o cenário brasileiro por sua efervescência cultural. No momento em que as rádios, LPs e shows ao vivo passaram a ser insuficientes para suprirem a necessidade dos fãs de acompanharem e interagirem com seus ídolos, surge na televisão aberta a MTV Brasil.
Juliana Gutmann, coordenadora do grupo de pesquisa CHAOS (Cultura Audiovisual, Historicidades e Sensibilidades) na Universidade Federal da Bahia, conta que o canal promoveu uma revolução na indústria fonográfica e uma aproximação mais efetiva entre público e artista através dos videoclipes. Dedicada a impulsionar essa relação, a MTV iniciou a criação de espaços dedicados aos fã-clubes a partir de programações que contavam com suas participações diretas, como o Disk MTV, no qual os fãs ligavam e pediam os videoclipes de seus ídolos. “A MTV ofereceu a possibilidade de ver o artista em cena: em entrevistas, videoclipes, programas e shows”, afirma Gutmann.
Uma década depois, a transição da TV aberta para a Internet marcava a mudança para a era pós-MTV. A Internet liberou extensivamente aos fãs a imagem e as obras dos artistas. Através de sua popularização, a música se disseminou cada vez mais. De acordo com Adriana Amaral, coordenadora do Grupo de Pesquisa em Cultura Pop (CULTPOP) da Unisinos, o MP3 foi o primeiro grande popularizador da música na Web, seguido das plataformas de streaming. “Graças ao fato do arquivo em MP3 ser mais compacto, ele foi facilmente utilizado pelos fãs para compartilhar obras. Porém, o stream tornou as relações simultâneas e intensificou a disseminação de músicas por meio das plataformas digitais”, afirma a pesquisadora. Com a criação das redes sociais, as ações dos fã-clubes foram interligadas a novas linguagens e espaços de visibilidade, possibilitando uma maior interação, de maneira a expandir, em grande proporção, o fenômeno dos fandoms.
Vocês já devem ter ouvido falar dos Little Monsters, fandom da Lady Gaga, assim como os Beliebers, de Justin Bieber, e Beyhives, da Beyoncé. Originários dos antigos fã-clubes, os fandoms utilizam as redes sociais não apenas para falar sobre seus artistas favoritos e acompanhar as notícias, mas também para promover diversas ações que os transformam em agentes extremamente participativos e essenciais no sucesso dos artistas. A relevância desse fenômeno é marcada pela doação e empenho que eles têm em dar visibilidade a seus ídolos, por meio do compartilhamento de seus conteúdos e participando ativamente de suas conquistas.
A ascensão dos fandoms
Eduarda Calaça, 17, e Amanda Albuquerque, 16, poderiam ser apenas mais duas estudantes do ensino médio. Mas, mesmo com pouca idade, já são as principais responsáveis por, há quatro anos, cuidarem da conta @WingsBrazil no Twitter, que hoje tem mais de 110 mil seguidores. A Wings Brazil foi uma das primeiras fanbases criadas no país para o grupo sul coreano de K-pop, BTS (atualmente o maior fenômeno mundial na indústria musical, batendo recordes dos próprios Beatles), e as duas gerenciam o perfil com intuito de ajudar e informar todos os fãs brasileiros do BTS. Amanda, que aprendeu coreano motivada pela paixão no grupo, é responsável por fazer a tradução de artigos para a conta, ajudando também Eduarda a repassar as mais diversas notícias que surgem diariamente.
Mesmo tendo começado há apenas seis meses, Luiz Eduardo Motta, 18, já possui números impressionantes: mais de 11 mil pessoas seguem sua conta dedicada à cantora Ariana Grande. Motivado pela insatisfação de não encontrar as informações que buscava em outros perfis do fandom Arianator, o rapaz criou @ArianaGonCharts sozinho e hoje já possui três administradores para ajudar com a página. Já Tainá Lacerda, 21, foi ainda mais ambiciosa: fã da Anitta desde o início da sua carreira, hoje é dona de cinco contas dedicadas à cantora no Twitter, cada uma desempenhando uma função, e juntas somando mais de 275 mil seguidores. Para conseguir conduzir bem todos esses perfis, Tainá conta com a ajuda de 35 administradores para realizar todas as funções necessárias: fazer o design de cards de divulgação, editar vídeos, gerenciar as contas em outras redes sociais como no Instagram e TikTok. Mesmo com ídolos diferentes, esses quatro jovens têm algo em comum: o desejo de demonstrar suporte para os artistas que tanto admiram.
Em um momento em que as vendas de discos não representam mais o principal lucro que os artistas podem obter, o stream e as visualizações tomaram o lugar de disputa enquanto maneira de demonstrar essa dedicação com os ídolos. Independente da plataforma, seja no Spotify, Deezer, Apple Music ou YouTube, o importante é dar play continuamente nas músicas para que os números sejam cada vez maiores. Para isso, os fandoms do Twitter se unem em uma iniciativa conhecida como Stream Party: um mutirão para aumentar o número de streams nas músicas dos seus artistas favoritos. Luiz Eduardo conta que normalmente isso acontece em períodos de lançamentos, para impactar o desempenho das músicas novas nos charts, ou quando os números estão perto de alcançar uma marca simbólica. “Se alguma música da Ariana está por exemplo com 995 milhões de streams no Spotify, a gente faz o Stream Party para bater mais rápido um bilhão”, afirma.
As meninas da Wings Brazil, Eduarda e Amanda, recentemente participaram de um projeto desenvolvido pelo fandom ARMY brasileiro, denominado B-Army Fábrica de Stream. Com o mesmo objetivo de uma Stream Party, a ação foi pensada como uma espécie de jogo em que três times são separados, cada um deles com uma fanbase responsável por incentivar os ARMYs a dar o maior número possível de reproduções em uma playlist pré-selecionada. Para averiguar os resultados dessa ação, desenvolveram um método de contagem: cada vez que alguém ouvia uma música inteira, deveria tirar um printscreen para comprovar a escuta e postar na reply do tweet relativo às metas. Um print equivale a um ponto, e a partir do número de respostas elas conseguiram visualizar a quantidade de streams feitos por cada grupo.
“hoje em dia, toda vez que sai um videoclipe novo, quando damos uma meta é porque sabemos que podemos alcançá-la. Nenhum recorde é impossível ou extraordinário, a gente faz todos os cálculos, é tudo previsto”
amanda albuquerque
A mobilização do projeto foi tanta que em dois dias conseguiram elevar em mais de 500 mil streams as músicas do BTS no Spotify, e ficaram em terceiro lugar nos assuntos mais comentados no mundo dentro do Twitter. “Metas de mil comentários batiam em três minutos e, se parar pra pensar que uma música tem três minutos, tinham mil pessoas participando só nesse espaço de tempo”, diz Eduarda. O sucesso do projeto proporcionou confiança no resultado de suas futuras ações. “Hoje em dia, toda vez que sai um videoclipe novo, quando damos uma meta é porque sabemos que podemos alcançá-la. Nenhum recorde é impossível ou extraordinário, a gente faz todos os cálculos, é tudo previsto”, afirma Amanda. Uma demonstração disso é que os ARMYs fizeram história: o clipe de “Dynamite” bateu no ano passado o recorde de vídeo com maior número de visualizações em 24 horas no YouTube, conquistando mais de 100 milhões de views. Para as meninas, o fandom se importa mais em conseguir esses números do que os próprios integrantes da banda: “Pelo nosso ego mesmo, pra gente poder falar que conseguiu”, diz Eduarda.
Mas não são só os ARMYs que são extremamente organizados. Os Anitters também têm um propósito muito claro: ajudar Anitta a conquistar cada vez mais fãs internacionais. Foi para isso que Tainá resolveu criar não só uma, mas cinco contas no Twitter de fanbases para a cantora. Para além da sua conta mais pessoal, o @whatsanitxx, criada com o intuito de dialogar mais proximamente com o fandom, existem outros dois grandes destaques: o @anittacrave, perfil com maior número de seguidores -mais de 163 mil, feito predominantemente em inglês para captar o público internacional da cantora-, e o @cashanitta, focado em arrecadar dinheiro para a compra de músicas e auxiliar a entrada nos charts americanos.
Tainá conta que criou o Cash Anitta no final do ano passado depois do lançamento de “Me Gusta”, música em parceria com a rapper Cardi B, que marcou a entrada da brasileira na Hot100 da Billboard, a maior referência de chart de músicas internacionais. “A Hot100 é baseada principalmente em vendas, só que as vendas são no iTunes americano e no site do artista. Então os fãs da Cardi B fizeram uma arrecadação para ‘Me gusta’, e assim a música conseguiu entrar no Hot100. A partir daí, a gente teve a ideia de iniciar outra arrecadação para os projetos futuros da Anitta”, conta Tainá.
A principal forma de arrecadação funciona da seguinte maneira: as fanbases divulgam perfis que procuram alcançar determinado número de seguidores, e ao conquistar esses números, esses perfis pagam uma quantia em retorno. Depois, Tainá transfere o valor para pessoas que moram nos Estados Unidos e que se comprometem a comprar as músicas da Anitta, sendo uma espécie de troca de favores. “A nossa meta é de 15 mil reais, e nós já estamos com quase 12 mil. Óbvio que temos de converter a moeda, o que dá aproximadamente dois mil dólares, mas ainda assim isso vai impactar a música nova dentro desse chart”, afirma a Anitter.
“Se o artista tem talento, mas o público não demonstra muito interesse, basicamente ele fica meio esquecido, porque o que o deixa em ascensão mesmo é a música ir bem nas plataformas de stream e na Hot100 da Billboard”
luiz eduardo
Luiz Eduardo, que criou sua conta direcionada especificamente para informações da Ariana Grande relacionadas à charts, afirma que a importância deles se dá por serem uma espécie de reflexo do interesse do público pelos artistas. “Se o artista tem talento, mas o público não demonstra muito interesse, basicamente ele fica meio esquecido, porque o que o deixa em ascensão mesmo é a música ir bem nas plataformas de stream e na Hot100 da Billboard”. Foi pensando nisso que os Anitters foram atrás de outros métodos para a ascensão da cantora.
“É óbvio que a Anitta vai ter muitas estratégias e muita divulgação para as músicas, mas também precisa dos fãs ajudando.”
tainá lacerda
Além das vendas e streamings, outra maneira muito influente de entrar na Hot100 é através das rádios. Assim, Tainá coordenou seus seguidores a pedirem para que as músicas da Anitta toquem nas rádios norte-americanas, através de marcações no Twitter e links de formulários – quanto mais solicitadas, maior a probabilidade de entrarem na programação. Tainá explica que organizaram essa ação para que a música entrasse para o “Most Required Live”, um programa norte-americano que seleciona a canção mais pedida para tocar em 150 rádios simultaneamente. “Isso já é um grande impacto dentro da Hot100, porque essa divulgação pode influenciar se a música vai entrar em uma boa posição”, conta. A Anitter acredita que são estas as formas mais eficientes de divulgar as músicas e fazê-las terem impacto diretamente no mercado americano. Ainda acrescenta: “É óbvio que a Anitta vai ter muitas estratégias e muita divulgação para as músicas, mas também precisa dos fãs ajudando.”
O empenho é tanto que a própria Anitta e sua equipe percebem as movimentações do fandom. “Ela pode não interagir muito, para evitar que sites façam matérias sensacionalistas, mas é muito ligada aos fãs e está por dentro de tudo”, diz Tainá. A Central de Fãs Oficial da cantora, conhecida como QG da Anitta, é administrada por sua equipe e não participam diretamente nas ações feitas pelos fãs. Porém, interagem de modo a criar uma relação próxima com as fanbases, o que faz com que Tainá, antes de executar algum projeto, encaminhe suas ideias para a aprovação do QG. Essa extrema cautela de Tainá é uma forma de prevenção para não atrair discursos de ódio para a cantora ou prejudicar sua imagem. “Se eles acham que isso pode prejudicar ela, então eu não faço ou eu remodelo a ideia. Se para a equipe for tudo bem, a gente faz. Eles são muito liberais com os fãs, mas eu sempre prefiro a opinião da equipe, porque para mim importa muito.”
Uma relevante conquista dos Anitters foi o reconhecimento da própria gravadora da cantora. Apenas seis donos de fanbases foram selecionados pelo QG da Anitta para receber um certificado da Warner Brasil, incluindo Tainá. O certificado garante a exclusividade de ter em primeira mão materiais de campanhas publicitárias, para serem divulgados de forma inédita e depois postados nas redes sociais dos patrocinadores. “É muito legal a gente ter esse reconhecimento da gravadora e da equipe, de saber que eles estão vendo o nosso trabalho e de estarem valorizando isso”, conta Tainá.
A pesquisadora Juliana Gutmann cita uma característica de Anitta: “Hoje não é só visto o glamour de Anitta nos palcos, ela faz questão de colocar todos na casa dela, com os cachorros dela, tretas dela, com maquiagem ou sem maquiagem. Isso dá a impressão de proximidade para este fandom, que é necessária para fortalecer essa rede, e é o que constitui a sua ascensão e da sua comunidade”. Já, a também pesquisadora, Adriana Amaral ressalta a força das comunidades dos fandoms, que ganham uma dimensão quase de dependência dos ídolos. Desta forma, vários artistas buscaram potencializar essa sensação de presença a partir de estratégias em suas redes sociais. Ela conclui que isso constrói novos tipos de celebrização e idealização em torno dos artistas. Foi a partir desse hábito da Ariana Grande de ter um contato mais próximo que Luiz Eduardo se tornou verdadeiramente fã da cantora: “Ela faz tudo, mostra porque gravou a música, para quem foi dedicada, detalhes de toda produção do álbum, além de fazer questão de interagir com a gente no Twitter.”
O verdadeiro protagonista
Para além dos streams, os fãs são imprescindíveis para a popularização dos artistas. Como aponta a pesquisadora Gutmann, o fã sempre foi o protagonista e o artista dependente dele para o seu sucesso, ainda mais na era digital. “Na terra de ninguém que se chama a internet, a disputa de visibilidade nos fandoms dentro das redes sociais constitui o lugar pulsante pela valoração do artista, sendo importantíssimo para a promoção do mesmo”, afirma.
Tainá, por exemplo, utiliza sua conta no Twitter para recrutar seus seguidores e engajá-los a pedir reacts da Anitta, marcando as contas dos canais famosos do Youtube em milhares de tweets. Algo que também acontece muito dentro do próprio Twitter é a utilização de fancams, que nada mais são do que edits de vídeos de artistas, seja em apresentações em shows, ou vídeos aleatórios com alguma música ao fundo, geralmente com contexto de humor ou exaltação. As fancams surgiram no universo do k-pop, sendo hoje um hábito amplamente difundido dos fandoms e repassadas com propósito de viralizar a imagem dos artistas: “Quando fazem um edit muito bom, se você colocar em vários lugares no Twitter, alguém vai ver e pode pensar ‘nossa, essa dança tá muito incrível, essa música é muito legal, da onde que é, quem são?’. Então as pessoas começam a conversar sobre”, diz Eduarda, da Wings Brazil.
Nem só da Internet vive a divulgação dos artistas, que ainda acontece de maneira orgânica, como demonstra Luiz Eduardo. Para o Arianator, o papel do fã é sempre apoiar o artista, seja em suas redes sociais ou no próprio boca a boca. Quando a cantora lançava algo, Luiz abordava os amigos e a família para mostrar suas músicas favoritas, o que muitas vezes acabava dando certo. “Quando eu ia ver, eles já estavam compartilhando músicas da Ariana, e do nada também viravam fãs”. O jovem afirma que tinha a sensação de dever cumprido ao trazer mais um novo integrante para o fandom: “Agora ele vai fazer a mesma coisa: compartilhar Ariana para outras pessoas que não a conhecem.”
Impacto fora da bolha
Muito mais que as ações de divulgação, os ARMYs são reconhecidos mundialmente por apoiar as causas sociais. Ano passado, a Wings Brazil começou a fazer projetos extensivos de boas ações nos aniversários de cada integrante do BTS. De forma conjunta com outras contas do fandom, conseguiram arrecadar mais de 60 mil reais para o SOS Pantanal, a fim de ajudar no combate às queimadas e manutenção do Pantanal Brasileiro em 2020. As ações já foram muitas: para ajudar na preservação da Amazônia, abrigos de animais e instituições de auxílio na saúde mental de pessoas em condições de vulnerabilidade.
Essas doações se destacaram a ponto de saírem em diversas matérias de jornais, influenciando pessoas de fora do fandom a ajudarem nos projetos e a se interessarem pela banda. “Muita gente gostou de nossas iniciativas e começou a seguir a gente para aprender sobre o BTS”, diz Eduarda.
Para Adriana Amaral, o ativismo dentro dos fandoms acaba representando um valor na esfera do online, em que existe uma própria expectativa e cobrança dos fãs por um posicionamento mais político dos artistas. No caso do BTS, a banda já possuía grande envolvimento em causas sociais, o que contribuiu para que os fãs perpetuassem este tipo de ação. Todas são feitas, inclusive, em nome dos próprios integrantes: “Pessoal gosta de falar que somos a imagem do BTS, e de fato somos. Quando fazemos esse tipo de projeto, nos olhos das pessoas que não são ARMY, é essa a imagem do BTS que fica”, conclui Eduarda.
Amanda explica a inspiração que o grupo teve para poder agir de maneira que considere importante dentro da própria sociedade: “Desde sempre, os meninos mostravam que têm muita esperança no mundo, então se eles têm esperança que podem mudar alguma coisa, eu também tenho que ter. Tem muita gente que fala ‘ah, vocês vão doar e não vai mudar nada’, mas o importante é que estamos tentando”.
O hate também vem de dentro
Se qualquer artista lida com críticas e comentários maldosos, os fãs não ficam para trás. As redes sociais são espaços marcados por violências como racismo, xenofobia e LGBTfobia, por isso nem sempre o trabalho dos fandoms é bem recompensado. Na constante batalha em defender seus ídolos, Amanda e Eduarda, da Wings Brazil, atuam nas redes de maneira cada vez mais precisa e rigorosa. “O Twitter tem muito cancelamento que também é direcionado para as fanbases. Se você comete um erro muito pequeno isso pode se virar contra você, por isso tentamos comprovar todas as informações antes de postar”.
Segundo a pesquisadora Adriana é comum ocorrerem disputas e controvérsias, já que muitos fãs desejam ascender dentro das fanbases e assumir um papel de liderança, o que acaba proliferando discursos de teor negativo. Existe um capital social dos fãs: o tempo de entrada no fandom, a quantidade de produtos licenciados, de curtidas e de streams, que geram valores de classificação entre eles. Essa dinâmica, afirma Adriana, é uma possível motivação para as disputas e consequentemente disseminação de mensagens de ódio.
Para o fã de Ariana Grande, Luiz Eduardo, esses hates surgem quando a cantora não supre as expectativas dos fãs. “O que mais vejo são eles atacando a Ariana por não satisfazê-los, mesmo ela estando feliz com seu trabalho. Isso desgasta muito, não consigo nem entrar no Twitter depois”, afirma Eduardo. Tal qual o Arianator, a fã de Anitta, Tainá, entende bem como isso acontece e afirma que, às vezes, alguns fãs postam tweets para prejudicar a cantora e exageram nos comentários sobre a artista e sua carreira. Essas insinuações alcançam pessoas de fora do fandom, por meio de retweets, e atingem proporções irreparáveis para aquele artista, tornando o ambiente nocivo para a saúde mental de ambas as partes.
“A gente retribui hate com charts, por exemplo, com eles no primeiro lugar na Billboard, é nossa forma de vingar”
amanda albuquerque
Não existe uma técnica definida para sobreviver às ondas de hate, cada fandom lida de uma maneira diferente. Quando os ataques atingem as suas contas nas redes sociais, a Anitter e o Arianator preferem excluir ou privar os comentários, esperar a poeira baixar e depois postar explicações sobre o ocorrido. Os ARMYs já são mais metódicos quanto à defesa de seus artistas coreanos: além de evitar engajar os discursos de ódio, preferem transformar suas mágoas em trabalho. “A gente retribui hate com charts, por exemplo, com eles no primeiro lugar na Billboard, é nossa forma de vingar”, diz Amanda.
Dedicação que conecta
Apesar das adversidades enfrentadas, tudo é recompensado quando se pensa no elo emocional entre os fãs e os artistas. A sensação de gratidão é o sentimento geral que motiva os fandoms a quererem retribuir por todas as mensagens, esforços e experiências que os artistas proporcionam e manter as fanbases vivas. Ajudar seus ídolos a superarem barreiras causa uma sensação coletiva de satisfação segundo Adriana: “Existe uma relação de sociabilidade entre os fandoms, pois não depende só de um; tem o lado competitivo e o colaborativo também.”
Por isso as páginas no Twitter são tão significativas, pois através delas é possível partilhar esses momentos com a comunidade e promover ações por aqueles que não têm como agradecer. “Por mim, quero continuar com a conta mesmo se eu estiver trabalhando e na faculdade, porque tem muitos ARMYs que fazem isso e conseguem administrar uma conta sozinhos”, afirma Amanda.
Os fandoms persistem por admiração aos seus ídolos e por acreditarem que fazem diferença em suas vidas. As canções não apenas emocionam ou empolgam uma noite na balada, elas preenchem a vida dos amantes de música. Eduardo acredita que a forma como Ariana Grande compõe é o que mais o motiva a continuar seu trabalho, pois para ele a cantora não apenas pensa nos negócios, todas as músicas são frutos da sua vida pessoal. Porém, o Arianator não esconde o “puxão de orelha” que deseja dar na cantora: “Como fãs brasileiros, a gente tem que reclamar um pouquinho, porque ela nota a gente uma vez no ano, e já tem umas duas turnês que ela não vem pra cá, mas eu ainda a admiro e a amo muito”.
Tainá expressa a mesma sensação de admiração à cantora Anitta, “eu diria que ela é muito importante. Tudo que ela é para mim se resume em duas palavras: amor e gratidão”. Já Eduarda, fã do BTS, afirma: “Eu não acho que estaria tão bem quanto estou hoje se não fosse por eles, não teria conhecido pessoas tão boas, não teria conhecido a Amanda, minha parceira de fanbase e minha gêmea. Realmente, só posso dizer obrigada, porque não tenho como resumir tudo em outras palavras.”
Leitura de fácil compreensão e empolgante🖤
Adorei a matéria! Achei muito interessante. Parabéns a todos