texto Mariana Passos
imagem Unplash
publicado em 30.09.2022
Abre porta, fecha porta, passa pelo corredor da pequena sala mal iluminada e evita olhar para o espelho que estava a sua frente, aquilo havia se tornado um hábito. Aos poucos, tudo se tornava um hábito, e o zumbido da rua não era o suficiente para calar o silêncio ensurdecedor da casa e da sua mente. Tudo estava se tornando um hábito. O levantar, tomar café, sair, ser adulto, voltar, comer, dormir, acordar e levantar novamente.
A sede de viver, de sonhos grandes e infantis, foram cedendo, despedaçando como as pétalas de uma margarida, mal-me-quer-bem-me-quer. A sede deu lugar ao afogamento e a falta de tempo para aproveitar os pequenos momentos. O café deixou de ser uma bebida que aquece o estômago, passou a ser a manivela para continuar andando pelas ruas solitárias
Ao deitar na cama em alguns dias, se recusa a pensar que a vida é só aquilo que está vivendo. O abrir e o fechar a porta talvez sejam diferentes, é isso que todo mundo fala. A vida tem coisas boas para serem vividas e aproveitadas, comidas a serem experimentadas e novos álbuns de kpop para serem ouvidos. Com a cabeça no travesseiro, fecha os olhos e mentaliza que o dia seguinte pode ser melhor, que será capaz de fazer diferente e alcançar tudo o que quis.
Ao abrir os olhos, desliga o despertador e se levanta, passa pelo espelho sem encará-lo, faz xixi, escova os dentes, abre a geladeira, come, toma banho, se veste. Decide colocar a música “28” do August D no Youtube, balança a cabeça no ritmo do beat, arruma a bolsa e sai. No fim de tarde, abre a porta, fecha a porta, o dia não foi melhor.
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