texto Luiza Gonçalves
capa Divulgação Festival Zeto
publicado em 04 de agosto de 2022
“Toda viagem é uma viagem para dentro de nós”. No primeiro dia do Festival Zeto vi uma prévia no que seria o show do Em Canto e Poesia, embalada pelo frio do sertão de Pernambuco. Antônio Marinho, cantava sentado no alpendre da casa junto com seus irmãos Greg e Miguel Marinho que acompanhavam com a guitarra e o pandeiro, e Galego se juntava com a Zabumba. A simplicidade não deteve a potência da canção, começava ali a miragem para dentro de nós, para dentro de mim.
Foram mais de nove horas de estrada de Recife até São José do Egito, município no centro do estado pernambucano, conhecido como berço da poesia. A cidade é famosa por seus poetas e repentistas, sendo o lugar de origem de Louro do Pajeú, o rei do trocadilho, seus irmãos Dimas e Otacílio Batista. A poesia geracional fez São José frutífera em cantores, poetas e rimadores que perpetuam em família a arte das palavras.
Marco
Criado em 2018, o Festival Zeto homenageia o poeta Zeto e sua obra durante três dias de programação cultural no final de semana mais próximo da data em que se comemorava seu aniversário. O local da festa é o Sítio Santa Helena, casa da cantora Bia Marinho, filha de Louro do Pajeú e companheira em vida de Zeto.
Inicialmente com a alcunha de Udistoque Pajeuzeira, o evento atrai artistas e curiosos de cidades da região, de Recife e viajantes de outros estados. A palavra é a ordem no festival, sendo a maior parte de sua programação composta na hora, por quem desejar ocupar o alpendre, a roda ou o palco. Além disso, grande parte dos dias e noites são passados juntos no sítio, que serve como camping para os viajantes. Performances marcantes, entrelaços e noites musicais dão o tom da celebração.
Caminho
Vinda de Recife e acompanhada de meu pai-poeta Nelson Maca, era a minha primeira vez no estado e em São José do Egito. Ele já conhecia a Festa do Louro e a cidade, de janeiros anteriores, mas também foi sua primeira vez no Zeto. Não ficamos no camping mas logo de cara arrumamos uma parceira de festival: Marcela, uma mochileira mineira com quem dividimos o trajeto até o sítio e boas conversas nos dias que passamos lá.
De quinta a domingo saímos do Hotel Central rumo ao Sítio Santa Helena. De dia com as caronas que encontrávamos pelo caminho, de noite com Mãe, o taxista da cidade que não dorme e é fã de Reginaldo Rossi. A cerca de 12km estava nosso destino. Atravessando a porteira uma casa, capela, flores, cactos e uma árvore imponente ao centro. O céu sempre limpo e o sol a pino transformavam-se em belos fins de tarde e noites gélidas acompanhadas de fogueiras até o sol nascer.
Festa
Quinta-feira (14/07) iniciaram-se as atividades do festival. Um cinema na fachada da casa exibiu curtas, clipes e o documentário A Ladeira dos Urubus, sobre o rock em São José. Na sequência os poetas tomaram a cena, Em Canto e Poesia fez sua primeira aparição e a dupla de rabequeiras Luiza e Isildinha apresentaram esse instrumento que até então era desconhecido para mim. Mais tarde Agatha ocupou ao microfone, sua voz e pandeiro fazem com que “Aquele Rosto” não seja esquecido por mim.
No segundo dia a poesia escrita abriu a noite com uma conversa e lançamento do livro Enquanto render a vida não se acaba a esperança de Severina Branca. Na sequência Nelson Maca apresentou seu livros e performance poética, delineando a cor e rompendo o silêncio com seu grito. Uma atividade que chamou muito minha atenção nesse dia foi a Mesa de Glosa, uma competição de improvisação. Comandada por Jorge Filó, os poetas recebiam um mote a cada rodada e precisam improvisar versos que encaixassem com ele no final.
A Banda de Pife Riacho do Meio fez um cortejo musical encaminhando-se para o palco principal do evento, até então não utilizado. Lá abriram para uma sequência de cantores e poetas que um a um pediam a vez. O presente da noite foi poder escutar Bia Marinho, anfitriã do evento cantando junto com seus filhos no Em canto e Poesia, que seguiu com uma apresentação para guardar na memória.
O final da tarde de sábado foi repleto de risadas e alegria das crianças com os fantoches do Mamulengo Jurubeba e apresentação dos palhaços viajantes do Circo Muamba. Miguel Marinho, Escurinho de Arco Verde, Samuel, Val Seresteiro e muitos outros ocuparam o ultimo dia de programação. Decidimos ficar para o amanhecer na fogueira. Pouco tempo depois, no domingo, feijoada, forró e poesia marcaram o último dia do festival.
Ainda faltam muitos nomes para descrever a experiência completa de ter estado em São José do Egito para um evento como esse. Com cada pessoa que você conversa surge um olhar atento, um artista, um verso inesperado, um acolhimento. São quatro dias na família Marinho, respirando poesia. Você não espera que para mim o momento que mais me marcou foi ter ouvido um poema sobre o nada, dentro de um carro, rememorado sem muita performance por Dona Maria Helena, por exemplo. Não é um festival grande, com multidões e grades de atrações, mas é o contato necessário para entender o querer por trás de quem faz arte e o impacto que ela tem numa comunidade.
Muito massa! Luiza e Nelson, parabéns pelo registro e fomento à cultura popular no Festival de Zeto. Düboy W2ROCKBAND
Massa
Deu vontade de fazer o trajeto
Eita, que esse texto me trouxe uma saudade enorme da atmosfera do que é o Festival Zeto! Próximo ano estarei lá!
Que lindo texto… parabéns… diante de tudo o que vc descreveu, eu só concluo que é um grande festival sim… um festival gigante no qual a potência broca das pequenas coisas, dos detalhes que estão na simplicidade.
Sou prova viva desse lindo evento costumo voltar para minha casa transbordando de cultura, povo que admiro, nos orgulha.
assisti em Caruaru um grupo eram poetas, repentistas ,cantores se apresentaram no dia 10 de junho , muito bom e falaram do festival Zeto , fiquei curiosa e vi que deve ser um festival maravilhoso. um dia vou conhecer
Texto ritmado e “almado”, tanto quanto o próprio festival. Deu vontade de ir!
Texto ritmado e “almado”, tanto quanto o próprio festival. Deu vontade de ir!