Conheça adolescentes que se organizam e lutam para defender causas sociais
texto Maria Eduarda Gomes
multimídia Stella Ribeiro
diagramação Isis Cedraz
narração Maria Eduarda Gomes
colagem Stella Ribeiro
Ativismo pode ser definido como qualquer movimentação que vise transformar a realidade. Existem diversas maneiras de assumir um papel na construção social e a juventude foi protagonista em vários momentos. Embora possa parecer apenas a rebeldia clássica da adolescência, a militância juvenil teve uma voz ativa e voraz em situações cruciais do Brasil e do mundo. Mas e atualmente? Como os jovens de hoje estão se movimentando para defender suas causas?
Lyandra Zamboni, Malu Campos, Eduardo Caiado e Laura Almeida são jovens de diferentes partes do Brasil. Olhando mais de perto é possível perceber que o que os une não é apenas a idade ou a pátria. O laço é bem mais intenso e se encontra na mobilização por diferentes causas sociais. A luta por ideais começou cedo para esses ativistas. Entre ir pra escola e fazer as tarefas de casa, eles arranjaram tempo para tentar transformar a realidade à sua volta.
Somos o futuro da nação
Entender, quando jovem, seu papel na sociedade é uma tarefa difícil, mas necessária. É na juventude que oportunidades e interesses próprios começam a aparecer. O despertar para questões sociais pode vir de vários lugares, basta prestar atenção nas atividades que realizam e nas suas motivações.
Eduardo Caiado ou Edu, 18, percebeu desde cedo que sua missão era ajudar os animais. Começou aos 9 anos, em Goiás, quando pegava o dinheiro destinado ao lanche na escola e usava para comprar comida para os cachorros da rua. “Sempre gostei muito de animais. Quando ia para a escola, passava e via muitos cães com fome. Então usava o dinheiro que meus pais me davam e comprava ração para eles”, conta ele . Apesar do primeiro momento de choque, quando os pais descobriram o que ele fazia, decidiram que era hora de ajudar o menino de alguma forma.
Já Laura, 17, conta que foi no início do ensino médio que começou a compreender causas sociais. A jovem soteropolitana sentiu a primeira mudança após o assassinato da vereadora Marielle Franco. “Foi muito impactante ver tudo aquilo acontecendo. Quem mandou matar, por que mandaram matar? Todas essas perguntas me deixaram intrigada.” Com a proximidade da eleição presidencial, ainda em 2018, as questões sociais ficaram mais acentuadas para Laura. A jovem então entendeu a importância de falar sobre esses assuntos e começou a pesquisar e estudar sobre eles.
O processo de Lyandra,16, foi um pouco diferente. Sempre tímida e reservada, ela se viu, durante a pandemia, desafiada a mudar. Por morar numa fazenda no interior de São Paulo, a adolescente decidiu buscar nas redes sociais projetos que a ajudassem a sair da bolha. “Quando comecei a ter vontade de me engajar, as oportunidades foram aparecendo”, conta Lyandra. No seu processo de descoberta de causas sociais, ela se identificou principalmente com ambientalismo e empoderamento juvenil.
Malu Campos, 16, é de Valença, interior da Bahia. Como uma mulher negra, ela conta que desde sempre vivenciou situações problemáticas no seu convívio social. Quando era mais nova, ainda que alisasse seu cabelo, e outras características que compartilhava com suas amigas brancas, a jovem diz que era olhada de forma diferente. “Mas eu sou parecida com elas, temos o mesmo cabelo, o mesmo óculos, usamos as mesmas roupas. Por que não me acham bonita como elas?”, se perguntava. Foi aí que Malu começou a perceber o racismo que sofria. Deixou de alisar o cabelo, começou a escolher as roupas no seu próprio estilo e mudou, principalmente, a forma de enxergar a sociedade.
Protagonismo juvenil
Ações conscientes são a base do ativismo juvenil. Identificar mazelas sociais é o primeiro passo para a transformação social e planejar uma atuação é o segundo. O maior desafio dos jovens é compreender seu poder transformador e se organizar para colocar seus projetos em prática.
Por enxergar a comunidade LGBTQIA+ como um grupo ameaçado e repudiado, Laura escolheu esta como sua primeira pauta. Depois de ouvir a música “Toda forma de amor”, de Lulu Santos, a adolescente se sentiu motivada a seguir nessa discussão. “Eu nunca precisei que ninguém me explicasse o que é ser gay, eu sempre fui em busca das informações e das coisas que eu acredito”, explica a jovem. Laura foi então em busca de questões que fossem de seu pertencimento. Discutindo com as amigas sobre as dificuldades femininas, ela foi chamada para participar de uma ONG que dá assistência a mulheres em vulnerabilidade social, a @ongkuna. Nesse grupo, ela já fez palestras, organizou doações e planeja ações para o futuro.
Edu, após adotar o primeiro cachorro, se sensibilizou ainda mais com a pauta de resgate dos animais. “Um dia vimos um cachorro abandonado na porta, num período de chuva. De madrugada ele começou a chorar e botamos ele pra dentro”, Edu conta que esse foi o primeiro cão resgatado e o que influenciou a construir um “albergue para os animais”. Atualmente ele cuida de cerca de 32 animais na antiga residência da família e que foi intitulada de Instituto Edu Paçoca, nome em referência ao jovem e ao primeiro cachorro adotado, carinhosamente chamado de Prefeito Paçoca. Com mais de 100 mil seguidores no Instagram, Edu compartilha no seu perfil, @megaedu1, o dia a dia no Instituto.
Ao entender a real necessidade de se identificar como mulher negra, Malu buscou grupos em que pudesse ingressar. Foi em 2019, no Instituto Federal da Bahia (IFBA), onde estuda, que ela encontrou o Movimento Feminista Negro Elza Soares. A adolescente conta que foi um divisor de águas fazer parte desse projeto. “Foi muito importante para o meu processo encontrar aquelas meninas que tinham vivências parecidas com as minhas”. Nesse grupo, Malu se reunia com outras meninas do colégio, debatiam pautas e organizavam manifestações junto com o Movimento Estudantil.
Para Lyandra, começar a se movimentar por causas sociais foi uma tarefa quase que predestinada. “Quando eu entrei no primeiro grupo, percebi que eu precisava daquilo pra me ajudar e ajudar as pessoas ao meu redor”, declara a jovem. Ela começou no projeto Construindo o Futuro (@construindofuturobr) e hoje já é embaixadora e coordenadora de eventos. A Organização é inteiramente de jovens que buscam o desenvolvimento sustentável através de palestras nas escolas e campanhas de conscientização. Além desse projeto, a paulistana participa do grêmio estudantil na sua escola. Também, é voluntária no UNICEF, onde participa do 1 Milhão de Oportunidades (1Mio), uma articulação de jovens e para jovens que estão ingressando no mercado de trabalho.
Obstáculos no caminho
Ativista por natureza e economista por profissão e, Maurício Nogueira, 59, é um exemplo de que o ativismo que começa na juventude pode ser levado para a vida inteira. Atualmente é o presidente da segunda zona do Partido dos Trabalhadores em Salvador, mas divide que desde jovem se movimentava por causas sociais. “Quando o PT estava sendo criado, precisávamos de um número mínimo de inscritos. Até meu pai cadastrei sem permissão para conseguirmos”, brinca o senhor.
Maurício conta que aos 16 anos participou de uma passeata na época em que o regime militar era vigente, e sofreu repressão policial. “Eu lembro que corri para uma sorveteria junto com um rapaz que fazia a cobertura jornalística. A polícia então entrou no estabelecimento e prendeu o repórter e outras autoridades, colocando até cachorros pra cima das pessoas”.
Nem sempre é fácil carregar uma bandeira. As adversidades que os jovens enfrentam ao se manifestar em prol de mudanças podem ser especialmente difíceis. Os desafios se encontram por vezes no próprio entorno. Edu conta que ouviu de muitas pessoas que não iria conseguir. “Me diziam que era coisa de criança, que eu só resgatava porque gostava de animais e que depois iria devolvê-los”, conta o jovem. Apesar dessa e outras dificuldades, Eduardo continuou seu projeto e conta com doações de quem acredita no seu trabalho para cuidar dos hóspedes caninos e felinos do Instituto.
“Por que você defende essa pauta se ela não é pra você?”. Laura conta que ouviu diversas frases como esta quando começou a defender a comunidade LGBTQIA+. Mas isso não a abalou. Ela seguiu na defesa desta e outras questões por acreditar que não precisa ser a vítima para lutar contra a opressão. Quando questionada pela luta dos direitos das mulheres, Laura diz que se encontrou no feminismo, mas não se intitula feminista. “Não gosto de me intitular feminista pela carga que a palavra carrega e por me parecer excludente, separando mulheres de homens”, explica. Mas adiciona que respeita quem defende esse termo.
“Eu preciso escolher qual preconceito eu vou sofrer no dia. Se eu sair com roupas masculinizadas, serei marginalizada. Se forem mais femininas, vou ser hipersexualizada”
malu campos
Carregar consigo muitas pautas é um trabalho árduo para um adolescente no começo de sua trajetória. Ser mulher, negra e membro da comunidade LGBTQIA+ é pesado para Malu. “Eu preciso escolher qual preconceito eu vou sofrer no dia. Se eu sair com roupas masculinizadas, serei marginalizada. Se forem mais femininas, vou ser hipersexualizada”, divide. Apesar de desejar que suas causas não fossem tão problemáticas, a menina entende que isso faz parte de quem ela é e acredita que até conseguir existir e resistir já é uma ação ativista.
Sonho de mudança
Todo projeto de transformação passa por mudanças, e o ativismo adolescente não foge a essa regra. Seja manifestando nas ruas, através de redes sociais, resgatando animais, trabalhando dentro das escolas ou simplesmente resistindo a ações opressoras, esses jovens se movimentam. O desejo de Lyandra é que os outros adolescentes de sua cidade comecem a se engajar e assim consigam ter um ambiente social mais sustentável. “Eu sempre levo as coisas que aprendi nos meus projetos para a escola”.
Seguindo a mesma linha, Laura tenta dialogar com sua família e amigos em prol de uma vida mais justa, “sempre tentarei entender os lados, mas colocando o que eu aprendi e acredito também na conversa”. Levando como lema a ideia de que é possível conquistar tudo o que quiser, basta correr atrás e celebrar todas as suas conquistas, por menores que possam parecer, a adolescente segue otimista na sua luta. O seu sonho é fazer medicina para que possa cuidar não só da saúde física, mas também a saúde mental das pessoas.
“Se você quer lutar por algo, se a sua paixão pode beneficiar o mundo, não deixe que as dificuldades te impeçam de conseguir” eduardo caiado
“Se você quer lutar por algo, se a sua paixão pode beneficiar o mundo, não deixe que as dificuldades te impeçam de conseguir”, Edu aconselha. O jovem ainda pede que leiam livros, façam cursos, utilizem as redes sociais para alcançar mais pessoas e afirma que desistir não pode ser uma opção.
Malu, também teme pelo planeta e se preocupa com o que virá. “Se formos pensar no futuro ambiental, não vai ter futuro”, brinca a estudante. Segundo ela, é necessária uma articulação mais estruturada de causas sociais com as ambientais para só assim conseguirmos pensar com clareza.
Diante de tanta vivência, Maurício acredita que não pode faltar a crença na utopia, num futuro mais feliz. “Às vezes caminhamos bastante e o horizonte parece muito distante”, confessa o ativista. “Mas o importante mesmo é trilhar o caminho. E da melhor forma possível”, finaliza.
Excelente matéria!!!
Desejando que todos os jovens possam se alimentar das experiências compartilhadas, descobrir a sua fome de transformação e finalmente pegar a visão de que sim, vocês podem e devem fazer desse mundo, um mundo melhor para as próximas gerações! E que nós adultos, possamos dar as mãos e acreditar no potencial dessa juventude linda!!!
Parabéns equipe da Revista Fraude! Parabéns, Maria Eduarda!!! Vc foi brilhante na sua abordagem cuidadosamente respeitosa com as histórias e com os personagens! Orgulho!!
Que texto inspirador , cheio de esperança e luta! Fico realmente feliz de perceber q mais jovens se interessam e se articulam em causas tão necessárias para uma transformação do nosso mundo! Em tempos, que o desamor e a violência estão presentes nas notícias do dia a dia, ler uma matéria como essa reafirma o quanto podemos ser potentes e resistir sempre!
Muito massa!!! Mesmo distante, que a gente nunca perca de vista esse horizonte! Parabéns!!! 🙂
Que texto inspirador , cheio de esperança e luta! Fico realmente feliz de perceber q mais jovens se interessam e se articulam em causas tão necessárias para uma transformação do nosso mundo! Em tempos, que o desamor e a violência estão presentes nas notícias do dia a dia, ler uma matéria como essa reafirma o quanto podemos ser potentes e resistir sempre!
Uau que demais. Fico honrado está ao lado de outros grandes jovens iluministas. Deus abençoe nossa jornada
Parabéns aos jovens pelo belo trabalho! 👏🏼👏🏼
Parabéns a reportagem, deram espaço e voz a jovens adolescentes q devem ser exemplos a serem seguidos, q tem a visão de um futuro q pode sim acontecer, olhando ao próximo, aos animais, a mãe natureza. Quem sabe atingir mais e mais pessoas e assim deixarem de olhar o próprio umbigo e se tornarem melhores seres humanos.
Parabéns pela matéria. Um estímulo para credibilizar as ações dos jovens.
É só o começo do seu caminho de luz, Maria Eduarda!❤️
Adorei!👏🏽👏🏽👏🏽
Conhecer essas histórias nós dá mais confiança de que as mudanças necessárias irão se concretizar, graças a força e a coragem dessa juventude que luta pelo que quer. Texto muito bom, me encheu de orgulho e mais otimismo. Parabéns!
Parabéns Maria Eduarda e equipe pela excelente matéria! Que a criatividade e a sensibilidade da juventude reinvente as formas de viver em uma sociedade mais justa contemplando nossa diversidade.
Muito bom ver o engajamento juvenil em várias causas importantes que afetam o mundo a partir da relação com as pessoas, animais e natureza, ou seja, o todo. Matéria esclarecedora e empolgante!