MEMÓRIAS DO “JAPÃO” EM SALVADOR

texto Nadja Anjos
Publicado em 16.09.2021.

Mesmo você não sendo uma pessoa festeira, seu coração deve apertar lembrando de algum grande evento ou no mínimo sentindo falta daquelas reuniões com um grupo de amigos. Com certeza todos tivemos esse sentimento durante a pandemia e aqui expresso uma das minhas grandes saudades.

O Festival de Cultura Japonesa, conhecido como Bon Odori, ocorre desde 2007 em Salvador e apresenta um pouco sobre a cultura do Japão. Não sei qual foi a minha primeira edição, mas lembro que comecei a frequentar por indicação de uma amiga. Precisei de apenas uma única visita para o evento se tornar um dos mais importantes para mim. 

Por ter várias atividades e diversos palcos, o Bon Odori consegue atingir públicos de todas as idades. De oficinas a concursos, espetáculos de dança e música, artes marciais, palestras, workshops e jogos, essas são algumas das atividades que as pessoas encontram durante o dia. É um local que você pode ir com a família e com os amigos, mas até quando for sozinho, vai achar alguém conhecido ou fazer uma nova amizade por lá. 

Aqui vou dar os meus primeiros passos. A entrada do evento é marcada pela decoração da qual esperei o ano inteiro. São muitas cores vivas, mas o vermelho é a cor mais presente. A cor vermelha tem grande presença na cultura tradicional japonesa, desde a antiguidade até hoje. Além de representar o sol na bandeira, atualmente representa a proteção contra doenças e maus espíritos.

Os palcos, os stands (como são chamadas as lojinhas ou expositores), as comidas e as plantas são algumas das composições que chamam atenção não só pelas cores, mas também pelos detalhes. Me sinto uma criança em um parque de diversão querendo ir em todos os brinquedos ao mesmo tempo. Apresentações musicais, de dança, artes marciais e até show de mágica acontecem nos palcos espalhados pelo evento. Sim, mais de um palco para proporcionar a melhor experiência.

Os stands tem seus lugares reservados. São roupas, calçados, produtos de beleza, artigos de decoração, utensílios de casa e muito mais. Cada peça traz a cultura do Japão em algum nível. Lembro de uma blusa oriental, estilo Gueixa, que minha mãe gostou e comprou, e eu só pensava “Mas ninguém usa isso em Salvador”. Muitos não compram pela razão, mas sim pela emoção e também para levar um pouco da cultura para casa. Esse foi o caso da minha mãe, prova disso é que até hoje a roupa está guardada e não lembro de ter sido usada nenhuma vez.

Não fique cansado porque tem mais coisas para contar. Já ouviu falar sobre Bonsai? Sabe aquelas árvores japonesas em miniatura que todos acham uma graça? Sim, essa mesmo, e foi isso que aconteceu há praticamente 2 anos. Na última edição presencial, a de 2019, o Festival trouxe um evento exclusivo da EXPO BONSAI 2019. Os bonsais fascinam por sua forma, seu tamanho diferenciado e muitas vezes por tamanha semelhanças com árvores normais. Na exposição, eles foram separados por categorias A, B e C; que se referiu ao tamanho da planta e foi anunciado R$5 mil em prêmios para os participantes. As pessoas puderam apreciar as plantas, além de ter um espaço dedicado só para vendas.

Já passou por uma situação de algum parente perguntar “Que fantasia é essa?” Sim, estou falando dos cosplayers, as pessoas que se vestem dos seus personagens favoritos. Uma tradição no Bon Odori é o concurso de cosplay que lota as cadeiras e faz com que muitas assistam até de pé, o que já foi o meu caso. Não se engane, isso não tira o meu ânimo de ver pessoa por pessoa apresentando seu trabalho. Mesmo não consumindo produções asiáticas ou sendo adepto a jogos online, com certeza você vai se deparar com algum personagem conhecido como Mario, personagens da Marvel ou do famoso League of Legends, como é o exemplo da próxima foto. Muitas pessoas fazem a sua própria roupa, o que deixa o processo mais prazeroso para elas e interessante para quem assiste. Aqui pra nós, até eu já tive vontade de fazer cosplay, mas essa história fica para depois.

Já deu um pouco de fome aí? A comida é uma das partes mais interessantes. Lembro de 2 amigos que estavam juntando dinheiro o ano todo para poderem experimentar as mais diversas comidas. Não fique impressionado achando que é caro, essa situação se referiu à diversidade de comida. Por receber milhares de pessoas, o festival tem um grande espaço dedicado à alimentação. Quem não gosta de uma comida diferente? Poder experimentar comidas de outros lugares é uma experiência única e por isso muitos se organizam para um momento como esse. Desde temaki e sushi, até tempurá e lámen, mas se você é um frequentador de carteirinha como eu, com certeza já pegou a promoção dos cup noodles 3 por 10 e dividiu com os amigos. Caso a comida japonesa não seja sua preferência, isso não é problema porque há outras opções disponíveis.

Quando estamos aproveitando o ambiente, não sentimos as horas passarem. Se você perguntar a várias pessoas qual é a melhor parte do evento, provavelmente vai receber a mesma resposta. Quando vai chegando o início da noite, um dos momentos mais esperados acontece. As famosas luminárias de papel, que são chamadas de Chōchin ou Bonbori, são acesas para a alegria do público.

Quem nunca se encantou com aquelas luzes no céu escuro? Particularmente eu amo qualquer coisa com luzes, então se vc for igual a mim, também vai se apaixonar. É o momento mais esperado, mas também dá um leve aperto no coração sabendo que em algumas horas vai acabar. Penduradas por boa parte do evento, as luzes são acesas no final da tarde, dando um tom aconchegante pela forma que são espalhadas e pelas cores.

Essas são algumas lembranças dos momentos que eu tive. Sempre tem alguém pra dizer que perdeu a graça ou que tá repetitivo. Mas para mim, a cada edição que passa, são histórias que acrescentam, são amigos que eu reencontro e são palestras que assisto com um olhar mais maduro. São memórias de um lugar simples, mas que remete a tantas emoções positivas.

Por causa da covid, desde 2020 o evento não acontece de maneira física, mas agora a expectativa é celebrar o festival da cultura japonesa presencialmente em 2022. Não sei se você, que está olhando para a tela agora, conhece ou não esse evento. Se sim, espero que tenha tido nostalgias durante a leitura, mas se não, que esteja receptivo a conhecer novos espaços. Como um dia uma amiga me indicou, eu espero ser essa nova amizade que te convida a futuramente experimentar um pouquinho do “Japão” em Salvador.