texto Lila Sousa
Publicado em 15.09.2022.
Dramas que fogem a realidade e histórias de personagens com sofrimentos que nada se aproximam do que se passa fora das telas são comuns nos k-dramas. Isso talvez seja uma das chaves do sucesso para essas produções que tem conquistado cada vez mais espaço fora da bolha asiática.
Mas nem só de contos de fadas e comédias românticas irreais se vive. A comunicação é intrínseca ao ser humano e através de produções audiovisuais é possível experenciar outras concepções sobre a vida e problemáticas que nos cercam. Neste ponto em específico “Our blues”, ou “Amor e outros dramas” – tradução adotada pela Netflix Brasil, não deixa a desejar, evidenciando discussões pertinentes a sociedade coreana, e porque não dizer global.
O drama que foi lançado em abril deste ano pode parecer confuso, a princípio, mas ao longo da trama é perceptível uma conexão entre as histórias dos personagens. Com a proposta de mostrar os tons agridoces do amor e os altos e baixos da vida, o roteiro gira em torno da vida dos moradores da ilha de Jeju.
Com um forte elemento cultural representado é possível conhecer as haenyeos, que são consideradas pela UNESCO como uma lenda viva de Jeju. Haenyeos são mulheres mergulhadoras com mais de 60 anos, sem equipamento mecânico elas pescam frutos do mar. Na trama as haenyeos estão lutando para manter o legado.
Um dos principais conceitos trabalhados em “Our blues” aparece no final do último episódio: Há coisas que devos lembrar em nossa vida. Não nascemos neste mundo para sofrer ou nos sentirmos miseráveis. Nascemos para sermos felizes!. Impossível não ceder a emoção com essa frase, foi como um abraço depois de acompahar os 20 episódios, que apesar de longos eram envolventes e deixavam sempre um gostinho de quero mais.
O elenco correspondeu aos níveis exigidos para essa produção. Nomes já conhecido de outros sucessos globais, como Lee Byung-hun, que atuou em “Round 6” como irmão desaparecido do detetive Jun Ho; Lee Jung-eun, que atuou em Parasita como a governanta; e outros atores e atrizes que são destaques na Coreia do Sul deram o nome no quesito atuação. Aqui, vale ressalta o retorno de Kim Woo Bin as telas depois de finalizar o trantamento de câncer.
Equipe de milhões
A direção foi dividida entre Kim Kyu Tae que já dirigiu outros sucessos da televisão coreana, incluindo Moon Lovers: Scarlet Heart Ryeo, e Lee Jung Mook que já atuou como produtor execultivo em 100 Days My Prince. Vale ressaltar que este é o primeiro projeto de direção do Jung Mook.
Como sempre a Coreia não deixa a desejar no quesito imagens, e o trabalho neste K-drama é incrível. Os cortes, sequências e mudanças de ângulo casam perfeitamente com a forma e a medida em que as histórias são contadas. Eles souberam usar dos atifícios que possuiam para adicionar dramaticidade a cenas específicas, a exemplo do close em Jung Hyun e seu pai no momento em que eles se reconciliam. O foco naquele abraço foi sensacional!
Jeju é uma ilha linda, um destino desejado por muitos, e isto torna a cenografia muito mais rica. Algumas cenas foram gravadas à céu aberto e deixou o visual sensaciol, impossível não mencionar que explorar essas imagens de um local real torna ele muito mais atrativo turísticamente. Já as cenas filmadas no vilarejo, contam com uma bagunça visual que encontra sentido no contexto dos personagens, são elementos que ao longo da trama encontram sentido e significado facilmente identificados por quem acompanhou a série.
Dramas e amores
A abertura de “Our blues” é genial! A cada episódio, um disco diferente com o nome dos personagens que serão o foco é colocado no tocador. Então, uma dica importante é prestar atenção na abertura.
Lee Dong Suk é um vendedor ambulante que nasceu na ilha de Jeju, é um faz tudo para o povoado. Com uma das histórias mais marcantes, a história do “filho ingrato” é repleta de infelicidade, rancor e amargura. Ao reencontrar seu antigo amor, Min Sun Ah, a vida dele começou a ganhar novos tons de amor, que tornaram o seu sofrimento menos doloroso. Infelizmente o processo de reencontro não é tão simples, Sun Ah está depressiva, e decidiu morar em Jeju para tentar recomeçar a vida. Com uma história repleta de dores e infortúnios os dois encontram um no outro forças para enfrentar os seus fantasmas.
Já o capitão Park Jung Joon, parece ser o jovem livre de grandes problemas, orgulho da vila, ele se apaixona pela mergulhadora Lee Young Ok, que brilha sempre que aparece interagindo com outros personagens, mas esconde um segredo que deixa qualquer um desconfiado do seu caráter. O que ela esconde pode ser surpreendente. Sem dúvidas o capitão é o bom partido que todas as mães queriam como genro e todas as mulheres como marido.
Jung Eun Hee não é só a dona de uma grande loja de peixes, ela é a alma e o coração da ilha. Sem essa mulher absolutamente nada funciona. Apesar de achar ela incherida, reconheço que esse traço de personalidade é fundamental para o papel que ela cumpre como amiga. Mas fica uma lição, as vezes pensar em você e ser um pouco egoísta não faz mal.
Não é possível finalizar esse texto, sem mencionar os dois amigos que se transformaram em inimigos mortais e precisam voltar a se falar graças a paixão que uniu os seus filhos. Essa parte é um mar de intrigas, confusão, a nível “Casos de família”. De lição eles nos deixam que a comunicação é a base para qualquer relação, guardar mágoas de quem você ama ou deixar que o orgulho fale mais alto pode ser altamente danoso.
Este é um bom drama, com reflexões reais sobre a vida. Com filosofias da sociedade coreana, “Our blues” nos permite experenciar nossas diversas emoções ao acompanhar os sofrimentos e amores vividos por cada personagem. Uma boa pedida para assistir com a família ou maratonar quando o coração pedir por algo mais quentinho.
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