texto Maria Eduarda Gomes
Publicado em 30.04.2021.
O que você sabe sobre um polvo?
Talvez as respostas sejam quase que inversamente proporcionais ao tanto de “braços e pernas” que se tem. Pois é, era só o que eu tinha em mente. Um polvo é um molusco que possui oito tentáculos, ventosas e que solta uma tinta preta. Bom, era só o que eu sabia. E espero que depois dessa dica, você também possa usar o verbo pretérito.
Lá estava eu passando pelos mil conteúdos que o Instagram me apresenta, quando assisti um story de uma moça extremamente abalada com um documentário que viu. Eu, amante de docs que sou, logo me interessei e continuei vendo do que se tratava. Professor Polvo (My Octopus Teacher) era o objeto do grande chororô. Inicialmente achei engraçado e curioso, porque até promessa de cortar o polvo das suas refeições foi feita pela blogueira.
Então convidei meu grande companheiro de aventuras cinematográficas, e de outras tantas, e resolvemos assistir o tal documentário do polvo. E um spoiler: o filme dos diretores James Reed e Pippa Erlich ganhou meu coração já nos primeiros minutos.
Vencedor do Oscar de Melhor Documentário de longa metragem, Professor Polvo te convida para um mergulho profundo na natureza e em si mesmo. Craig Foster, um cineasta frustrado e cansado do trabalho, procura refúgio em sua antiga casa na África do Sul. Lá, ele começa a mergulhar e desenvolve uma relação com um polvo que vive por ali.
Já começo dizendo que a sinopse da netflix utiliza o termo “forjando” uma relação, o que eu discordo totalmente. A relação que Craig e o polvo desenvolvem é uma das coisas mais improváveis, porém sublimes que já vi.
Nos primeiros minutos, como disse anteriormente, já fiquei fascinada pela beleza do lugar. As cores, o movimento, a diversidade marinha. Tudo perfeitamente orquestrado pela nossa querida natureza.
Então Craig te apresenta o fundo do mar. E após semanas escondida, a polvinha cede às aproximações e eles iniciam a inusitada jornada.
Não direi muitas coisas que possam estragar o deleite que são os 90 minutos do filme. Mas seria um ultraje sair daqui sem dizer os grandes impactos que essa obra deixou em mim.
É um paradoxo de profunda admiração e uma tristeza latente. O desejo de interferir nas relações naturais do ambiente gritavam em mim na mesma intensidade do meu entendimento que a vida é como é, num equilíbrio perfeito de vida e morte. Entendi, assistindo ao filme, aquilo que sempre ouvi nas aulas de química: nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. A existência, seja ela humana, animal, vegetal, se encosta em outras tantas pra só aí fazer sentido. E se despir de qualquer traje que te impeça de mergulhar fundo nas relações que constrói, é o grande segredo para viver. O Professor Polvo me ensinou muito mais do que como é a anatomia do animal. Aprendi com Craig Foster e o polvo que quanto mais compreendemos o mundo ao nosso redor, mais compreendemos nós mesmos. Porque estamos todos ligados a tudo o que há na natureza. Temos um infinito de universo que nos compõe e comporemos ainda muitos outros.
Para finalizar, convido você a assistir essa aula sobre a vida, onde aprendemos com um molusco que a chave para a conexão interna e externa está na nossa capacidade de se entregar, de perceber e respeitar o ritmo da vida.
Um dos filmes mais simples, belos e sensíveis que já vi!
Que olhar sensível, Maria Eduarda! Parabéns!!!?
Realmente é maravilho!!!