Percorrendo o bairro com maior concentração de museus de Salvador
texto Gabriel Caíno e Luísa Carvalho
diagramação Gabriel Caíno
foto de capa Eduardo Bastos
narração Gabriel Caíno
As ruas estreitas e enladeiradas de paralelepípedo, o som onipresente de instrumentos percussivos e as construções no estilo barroco caracterizam o bairro mais antigo de Salvador. O Pelourinho foi tombado como patrimônio da humanidade pela UNESCO em 1985. Nele, entre os edifícios, teatros e igrejas de grande valor histórico, estão instalados 19 museus dos cerca de 70 distribuídos pela cidade.
“O museu é um espaço onde há um certo recorte sobre a cultura local ou sobre uma cultura com a qual a gente dialoga”, define Marcelo Cunha, coordenador do Museu Afro Brasileiro da UFBA (Mafro). Maior a quantidade deles, mais variadas experiências e interpretações culturais são possíveis. O agrupamento numa região pode ser benéfica a partir de uma ideia de circuito para quem a visita. “Reuni-los acaba potencializando a visitação”, afirma Cunha.
De acordo com censo do Instituto Brasileiro de Museus, Salvador é a terceira cidade do país em número desse equipamento cultural, ficando atrás apenas de Rio de Janeiro e São Paulo. Essa grande quantidade tem várias explicações, sendo o alto fluxo turístico e comercial do Centro Histórico uma delas. Mas, além disso, “em Salvador há um discurso sobre patrimônio cultural muito forte. A cidade possui um pensar sobre museus”, afirma Rita Maia, professora de Museologia na Universidade Federal da Bahia (UFBa). Marcelo Cunha adiciona a isso “uma política de aproveitamento de edifícios considerados com algum valor arquitetônico pelo estado baiano”. São neles em que, geralmente, há a montagem dos museus.
Diante dessa grande variedade, a Revista Fraude traçou uma rota de todos os museus em funcionamento no Pelourinho. O mapa abaixo contém todos os museus percorridos. Clique em cada um dos números e saiba mais sobre os museus:
A grande quantidade não significa alta visitação. Mesmo com o elevado número de museus no coração do Centro Histórico, apenas 19% dos soteropolitanos tem o costume de visitá-los, segundo pesquisa recente feita em 12 capitais do Brasil.
“O público local não vem ao Pelourinho por desconhecimento da existência desses museus”, diz a professora Rita Maia. Para além da escassa divulgação; a localização ruim, a falta de sinalização e de informações na internet são problemas que também contribuem para que as pessoas de Salvador ocupem pouco esses espaços. Atualmente, o museólogo Marcelo Cunha observa que os principais públicos dos museus são estudantes e turistas.
Para Marcelo, são importantes também a acessibilidade e a atratividade de museus para que sejam entendidos como espaços de lazer. “Eles precisam ser atrativos. A exposição por si só não dá conta, esse é um problema. A Pinacoteca de São Paulo, por exemplo, virou um ícone na cidade e é um complexo de coisas que você tem para fazer por lá. O MAFRO é um museu referência, mas não tem nem uma cafeteria, nem um banheiro, quanto mais uma rampa de acesso.”
Embora a junção de equipamentos culturais no bairro seja positiva para otimizar a visitação de quem frequenta o Centro Histórico, ela indica um problema: a dificuldade dos museus de se estabelecerem em outros locais da cidade. “A distribuição dos museus reforça esse caráter do Pelourinho como centro da cidade. Os outros espaços não têm esse apelo cognitivo”, diz Rita, que acredita que espaços culturais não possuem tanto apelo fora do centro da cidade. Apesar de acreditar que isso seja benéfico em certo aspecto, ela alerta: “A cidade está sendo feita para pensar núcleos isolados de lazer”.
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