texto Stella Ribeiro Silva
Publicado em 24.07.2021
O voleibol caiu nas graças dos brasileiros. Desde a primeira medalha conquistada nos jogos de Los Angeles em 1983, o esporte cresceu e se tornou um dos mais praticados do país. Para muitos fãs, no entanto, o que mantém o esporte vivo entre as gerações de espectadores são as lembranças de jogos inesquecíveis que fidelizam o público como exímios torcedores.
Que fã não se embasbaca ao relembrar as quartas de final em Londres, quando o narrador Luiz Carlos Jr. esbraveja de alivio, “O BRASIL BATE A RÚSSIA”, depois de um jogo de 5 sets, no qual Sheilla salva os seis match points do time russo e, de virada, o Brasil fecha o jogo em cima das temidas Gamova e Sokolova? E como esquecer os olhares oblíquos e desnorteados dos italianos na final masculina dos jogos do Rio ao verem o time brasileiro, ponto a ponto, fecharem o jogo no terceiro set?
Todas essas conquistas geram expectativas relacionadas ao desempenho das seleções nos jogos Tóquio, de modo que nem a pandemia de Covid-19 é capaz de abalar o sonho do ouro Olímpico. Mesmo após um ano marcado por adiamentos e cancelamentos de competições, como a superliga feminina 2019/2020 e a Volleyball Nations League (VNL) 2020, as seleções voaram nas principais competições nacionais e internacionais desse ano. Por isso, vale questionar: o que podemos esperar de nossos times em Tóquio?
Renovação do sonho Olímpico
Não é surpresa que desde a inesperada eliminação da equipe feminina para o time chinês nos jogos do Rio, o treinador Zé Roberto Guimarães e sua equipe técnica vinham sofrendo pressão de torcedores. Com o afastamento, até então indeterminado, de Thaisa, Jaqueline, Fernanda Garay, Fabiana, Dani Lins e Adenízia – principais nomes da seleção e participantes da conquista de Londres – os fãs apostavam que a saída para recuperar o time seria a troca do treinador, alguns até cogitavam em colocar Bernadinho no lugar.
Mas Zé Roberto persistiu em acreditar que poderia reconstruir a equipe feminina, tantas vezes vitoriosa sob sua direção. Optou pela renovação do time e ao longo de quatro anos de preparação para Tóquio, testou diversas atletas em competições internacionais. Foi assim, por meio de muitas derrotas, dificuldades de entrosamento e muitos testes, que Zé conduziu a equipe feminina à final da Volleyball Nations League 2021.
Mesmo sem conquistar a vitória na final sobre as americanas – que, infelizmente, conquistaram o campeonato mais uma vez – o objetivo do treinador foi alcançado. Com apenas 3 derrotas em jogos, contra os Estados Unidos e a China, as jogadoras brasileiras conseguiram emplacar a melhor campanha do Brasil nessa competição. Entre os principais destaques estão:
Tandara Caixeta como a maior pontuadora do time brasileiro e a segunda da competição, apenas 6 pontos atrás da turca Karakurt Ebrar, e também como a melhor oposta da competição. Carol Gattaz como a melhor central e Gabi como a melhor ponteira.
Desacreditado após 2016, Zé Roberto devolve as críticas feitas a ele colocando o Brasil no pódio de uma competição importante e com um time sólido, entrosado e consciente da disputa para se chegar à final Olímpica.
A convocação das 12 atletas que vão para Tóquio, anunciada um dia depois da final da Volleyball Nations League, revela também o trabalho do técnico em passar por cima das críticas de “panelinha” com jogadoras veteranas. Com o corte de Sheila, Dani Lins e Adenízia, apenas 3 jogadoras que atuaram na conquista do ouro olímpico em Londres estarão presentes – Fernanda Garay, Natália e Tandara. Segue a lista das convocadas:
A trajetória inicial do time feminino em Tóquio deve ser tranquila. Os países que integram o grupo do Brasil, Grupo A, são a Coréia, o Japão, o Quênia, a Republica Dominicana e a Sérvia. Dentre esses, Japão, Sérvia e Coréia podem dar um trabalho a mais para a seleção devido ao excelente fundamento de passe das japonesas, as boas defesas das coreanas e aos ataques habilidosos das jogadoras servias, que, aliás, foram medalhas de prata nos jogos do Rio.
Porém, nada disso pode prejudicar a equipe brasileira se o time mantiver o mesmo foco e precisão entregues na Volleyball Nations League desse ano, quando o Brasil venceu o Japão e o time B da Sérvia por três set a zero. Ou seja, nada impede que a equipe feminina se classifique em primeiro ou segundo na chave. O resto? Apenas saberemos com o andamento das competições, mas embates contra a Rússia, Estado Unidos, Itália ou China são esperados.
Caminho vitorioso, mas truncado
O que esperar do atual campeão olímpico? Consistência, determinação e se depender do jogador Douglas Souza muitos closes baphos.
A trajetória masculina depois dos jogos do Rio teve pequenas semelhanças com a feminina, mas o caminho trilhado nesses quatro anos até Tóquio foram bem diferentes. Após a conquista do ouro, Renan Dal Zotto assumiu o lugar do bicampeão olímpico Bernardinho como técnico da seleção, e jogadores importantes como Serginho, William, Lipe, Éder e Evandro deixaram o time.
Diferentemente da seleção feminina, o time masculino já contava com bons jogadores reservas para preencher os desfalques, como Alan, Douglas Souza, Leal, Thales, Fernando Cachopa, Maique, Flávio e Isac. Os únicos ajustes pelas quais o time teve que passar foram a troca de treinador, que se deu de maneira rápida com Dal Zotto levando o time para a final da Volleyball Nations League (VNL) 2017 em seu primeiro ano como técnico, e o entrosamento do time, que também ocorreu de maneira orgânica.
O que se deu em seguida foi uma série de competições bem-sucedidas para a seleção masculina: vice-campeão da VNL em 2017; quarto lugar da VNL em 2018 e 2019, campeão da Copa do Mundo de Vôlei em 2019 e campeão da VNL em 2021 (a VNL de 2020 foi cancelada devido a pandemia de Covid-19). Os destaques da Volleyball Nations League desse ano são:
Leal como o melhor ponteiro, Maurício Souza como o melhor bloqueador, Wallace como o melhor oposto e Thales como o melhor líbero
De modo geral, a chegada da seleção masculina à Tóquio já era prevista e espera-se que o time continue com a consistência de sempre. Porém, o que anima os espectadores em relação à trajetória inicial do time é o grupo no qual o Brasil está inserido, junto com Argentina, Estados Unidos, França, Rússia e Tunísia. Em uma chave com países muito fortes, a equipe brasileira precisará de muita paciência para lidar com França e Rússia – dois países que gostam de provocação – e muita habilidade para não desperdiçar ataques e contra-ataques, além de ter de reduzir erros.
Em caso de curiosidade, confira a listas dos jogadores convocados:
A torcedora dentro de mim saúda a torcedora dentro de você
Como amante desse esporte tão maravilhoso, não desejo influenciar sua torcida em Tóquio. Porém, venho lhe oferecer um conselho de torcedora fanática: Se ligue nas meninas!
Claro que o time masculino do Brasil, como atual campeão olímpico e mundial, tem as mais completas chances de brigar pelo tricampeonato em Tóquio. Obviamente, a equipe possui muitos jogadores habilidosos e por terem tido uma preparação mais tranquila se comparado à feminina, os meninos chegam na olimpíada com confiança extra. Contudo, isso não garante medalha.
Como eu disse no começo desse texto, o voleibol se destaca pela emoção dentro de quadra e é isso que a equipe feminina tem nos apresentado desde a reconfiguração da equipe feita por Zé Roberto na VNL desse ano. E não posso mentir, uma áurea reluz sobre as jogadoras desde então. Não se vê mais medo, dúvidas e nem incertezas, tudo o que se enxerga é o velho e bom time de vôlei feminino do Brasil. Um time alegre, divertido e que brinca de jogar voleibol, capaz de arrancar sorrisos dos torcedores.
Os quatro anos de frustração deram origem à superação e, hoje, minhas cartas estão apostadas nas meninas. Mesmo se elas não se classificarem em primeiro na fase de grupos, mesmo se o time nem chegar na final, Zé resgatou o meu brilhante time feminino e só por isso eu já agradeço.
Por essa evolução, sinto que a campanha feminina mereça uma atenção a mais.
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