H REVISTA FRAUDE

Ano 13 | 2016 - nº14 - Salvador/Bahia

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O Nordeste animado de Chico Liberato

Artista plástico, ilustrador e cineasta de animação baiano, Chico Liberato estampa a cultura brasileira através das suas obras

No bairro do Trobogy, longe do centro de Salvador, pequenos sítios ainda resistem à urbanização. Em um desses locais, o verde da vegetação nativa foi mesclado com o colorido de obras de arte de Chico Liberato, 80, artista plástico, ilustrador e cineasta. Nascido em Salvador, no bairro de Politeama de Baixo, Chico cresceu numa família de quatro irmãos e desde cedo precisou ajudar a mãe, Maria de Lourdes, divorciada do marido. O menino cresceu com dois grandes amores: o esporte e a arte. No primeiro, se destacou na natação e futebol. No segundo, se consolidou como artista e tradutor da cultura brasileira.

No bairro do Trobogy, longe do centro de Salvador, pequenos sítios ainda resistem à urbanização. Em um desses locais, o verde da vegetação nativa foi mesclado com o colorido de obras de arte de Chico Liberato, 80, artista plástico, ilustrador e cineasta.

Nascido em Salvador, no bairro de Politeama de Baixo, Chico cresceu numa família de quatro irmãos e desde cedo precisou ajudar a mãe, Maria de Lourdes, divorciada do marido. O menino cresceu com dois grandes amores: o esporte e a arte. No primeiro, se destacou na natação e futebol. No segundo, se consolidou como artista e tradutor da cultura brasileira.

No bairro do Trobogy, longe do centro de Salvador, pequenos sítios ainda resistem à urbanização. Em um desses locais, o verde da vegetação nativa foi mesclado com o colorido de obras de arte de Chico Liberato, 80, artista plástico, ilustrador e cineasta.

Nascido em Salvador, no bairro de Politeama de Baixo, Chico cresceu numa família de quatro irmãos e desde cedo precisou ajudar a mãe, Maria de Lourdes, divorciada do marido. O menino cresceu com dois grandes amores: o esporte e a arte. No primeiro, se destacou na natação e futebol. No segundo, se consolidou como artista e tradutor da cultura brasileira.

texto Lara Miranda e Thiago Conceição
fotos Dudu Assunção/Labfoto

 

Em busca do essencial

O interesse de Chico pela arte começou na adolescência. As visitas a ateliês de artistas baianos como Carlos Bati, Emanuel Araújo, Mário Cravo e Carybé eram frequentes e foram as primeiras influências do artista.

Jovem, em 1960, deixou a vida soteropolitana para ir morar na cidade de Una, sul da Bahia, local onde entrou em contato com a comunidade indígena Tupinambá de Olivença. A proximidade trouxe a figura do índio como personagem marcante para a vida e obra do artista. O convívio com a natureza se tornou um dos elementos norteadores do seu trabalho. Um dos reflexos se deu na composição física de algumas de suas obras, quando passou a utilizar elementos como barro, pedras, bambus, madeiras e sementes.

 

TEM EXPRESSÕES QUE VOCÊ VAI VER SEMPRE NO VOCABULÁRIO DELE: CULTURA BRASILEIRA, REPRESENTATIVIDADE, ESSÊNCIA, SIGNIFICADOS
Alba Liberato

 

A arte feita com cores e traços da natureza foi mesclada com a pluralidade encontrada no povo brasileiro. O sertanejo foi outro personagem representado em seus trabalhos, consequência da procura de Chico pela essência brasileira através da releitura das influências indígenas, africanas e europeias.

Aventureiro, percorreu cidades do sertão nordestino e os centros de maior urbanização do país. No Rio de Janeiro, frequentou em 1963 um curso de gravura no Museu de Arte Moderna, local onde conheceu Alba Liberato, poetisa, roteirista e produtora que foi sua colega de sala e que se tornou sua esposa e parceira de trabalho. “Começamos a namorar. Ela morava no Largo da Glória. Todo dia a gente voltava do curso a pé, namorando. Tudo estava pertinho. Nosso casamento foi ali mesmo, na Igreja da Glória”, lembra Chico.

 

 

 

 

 

texto Lara Miranda e Thiago Conceição
fotos Dudu Assunção/Labfoto

 

Em busca do essencial

O interesse de Chico pela arte começou na adolescência. As visitas a ateliês de artistas baianos como Carlos Bati, Emanuel Araújo, Mário Cravo e Carybé eram frequentes e foram as primeiras influências do artista.

Jovem, em 1960, deixou a vida soteropolitana para ir morar na cidade de Una, sul da Bahia, local onde entrou em contato com a comunidade indígena Tupinambá de Olivença. A proximidade trouxe a figura do índio como personagem marcante para a vida e obra do artista. O convívio com a natureza se tornou um dos elementos norteadores do seu trabalho. Um dos reflexos se deu na composição física de algumas de suas obras, quando passou a utilizar elementos como barro, pedras, bambus, madeiras e sementes.

 

TEM EXPRESSÕES QUE VOCÊ VAI VER SEMPRE NO VOCABULÁRIO DELE: CULTURA BRASILEIRA, REPRESENTATIVIDADE, ESSÊNCIA, SIGNIFICADOS
Alba Liberato

 

A arte feita com cores e traços da natureza foi mesclada com a pluralidade encontrada no povo brasileiro. O sertanejo foi outro personagem representado em seus trabalhos, consequência da procura de Chico pela essência brasileira através da releitura das influências indígenas, africanas e europeias.

Aventureiro, percorreu cidades do sertão nordestino e os centros de maior urbanização do país. No Rio de Janeiro, frequentou em 1963 um curso de gravura no Museu de Arte Moderna, local onde conheceu Alba Liberato, poetisa, roteirista e produtora que foi sua colega de sala e que se tornou sua esposa e parceira de trabalho. “Começamos a namorar. Ela morava no Largo da Glória. Todo dia a gente voltava do curso a pé, namorando. Tudo estava pertinho. Nosso casamento foi ali mesmo, na Igreja da Glória”, lembra Chico.

 

 

 

 

 

 

Traços de resistência

Com a chegada da Ditadura Militar e as constantes prisões de amigos, o casal precisou encontrar um lugar mais tranquilo para criar a família. Em 1967, os Liberato vieram em definitivo para Salvador e passaram a morar em um sítio no bairro do Trobogy. Na cidade, tiveram todos os seus filhos: Ingra, hoje com 49 anos, atriz; Cândida Luz, 47, artista plástica e produtora; Flor Violeta, 41, dançarina;  João Riso, 37, músico; Timóteo, 36, advogado e escritor.

Juntamente com Juarez Paraíso e Riolan Coutinho, artistas plásticos baianos, Chico criou e dirigiu as duas primeiras Bienais de Artes Plásticas da Bahia, ocorridas nos anos de 1966 e 1968. A próxima só viria a acontecer em 2014. As Bienais foram espaços de exposições artísticas e luta contra o regime militar.

A ditadura, no entanto, atingiu também a família Liberato, que em 1970, teve sua casa invadida e Chico levado para um centro de tortura. A prisão se deu por causa da obra Meninos de Biafra, exposta na segunda bienal. A obra criticava a mortandade de crianças da recente república africana e foi interpretada na época como uma crítica ao governo vigente. Alba movimentou os artistas da cidade para tirar o marido da prisão, que em poucos dias foi libertado. A mídia impressa foi importante para informar e mobilizar as pessoas pela soltura do artista.

A lembrança, exibe o caráter de resistência através da arte que Chico coloca em suas obras, em uma busca pelo que é legitimamente brasileiro e representativo da terra. “Tem palavras que você vai ver sempre no vocabulário dele: cultura brasileira, representatividade, essência, significados”, explica Cândida.

 

Nada de 24 frames por segundo

A bagagem adquirida por Chico dentro das artes plásticas ganha o movimento do cinema a partir de 1972, com seu primeiro curta, Anti-Strofe. Até Amarillis, lançado em 2016, Chico percebe a afirmação da linguagem cinematográfica estabelecida em suas obras, presente na busca por uma representatividade brasileira.

O processo de criação de Chico permanece quase inalterado. A folha de papel ofício ainda é a principal plataforma para a criação dos seus desenhos. A digitalização fica por parte dos membros da equipe de estúdio da Liberato Produções, localizada no bairro da Federação. A empresa familiar foi fundada em 1977 pelo casal Liberato. O objetivo era encontrar estabilidade financeira para a produção de animações. Hoje o estúdio é liderado por Cândida, responsável pela produção dos filmes do pai.

A literatura de cordel serviu como pilar para a construção das narrativas audiovisuais de Chico. “Percebi que a literatura de cordel é formada por desenhos fortes e que nossa força não tinha nada a ver com a Disney”, conta. A infusão de cores já presente nas obras plásticas do artista torna-se novamente presente no movimento da tela de cinema. Junto com ela, a música ganha lugar central, muito representada pelas cantigas sertanejas do músico baiano e amigo Elomar.

O tempo não linear tornou-se um traço marcante na narrativa, em nada parecido com as habituais animações do cinema comercial. “Ele sempre procura retratar o universo do ser humano, a mente, a psique, o espírito, que não são lineares. Temos vários dentro de nós”, conta Alba. A quebra de modelos não ficou restrita às histórias e personagens. Na técnica de produção, os 24 frames por segundo, antigo padrão utilizado em animações, foi subvertido. As obras de Chico Liberato trazem um número menor de frames, imagens fixadas em sequência que mudam de posição e criam a ilusão de movimento na animação. O artista utiliza uma média de 8 a 12 frames.

O desafio da falta de financiamento e de espaço para seus filmes, que não possuem caráter comercial, nunca desmotivou a forma de trabalho do artista. “Ele começou em uma época em que o cinema brasileiro de maneira geral, não só a animação, era autoral. Hoje a dificuldade que tenho é encontrar mecanismos que aceitem esse tipo de obra”, explica Cândida. Em 2012, o Festival de Animação Anima Mundi, considerou Boi Aruá, primeiro longa metragem de Chico e pioneiro na animação baiana, como a melhor obra de arte da animação brasileira, devido a representação da cultura do país.

Nas telas de pinturas e do cinema de animação, o cotidiano nordestino é apresentado para o mundo. Expressões de um artista baiano que encontrou em suas raízes princípios de vida e trabalho. “A memória faz com que a pessoa seja quem é. E a cultura é quem trás o conteúdo. Acho que quando abordamos a cultura brasileira isso enriquece a nós mesmos, pois toda a vez que abordo, enriqueço”, conclui Chico.

 

Traços de resistência

Com a chegada da Ditadura Militar e as constantes prisões de amigos, o casal precisou encontrar um lugar mais tranquilo para criar a família. Em 1967, os Liberato vieram em definitivo para Salvador e passaram a morar em um sítio no bairro do Trobogy. Na cidade, tiveram todos os seus filhos: Ingra, hoje com 49 anos, atriz; Cândida Luz, 47, artista plástica e produtora; Flor Violeta, 41, dançarina;  João Riso, 37, músico; Timóteo, 36, advogado e escritor.

Juntamente com Juarez Paraíso e Riolan Coutinho, artistas plásticos baianos, Chico criou e dirigiu as duas primeiras Bienais de Artes Plásticas da Bahia, ocorridas nos anos de 1966 e 1968. A próxima só viria a acontecer em 2014. As Bienais foram espaços de exposições artísticas e luta contra o regime militar.

A ditadura, no entanto, atingiu também a família Liberato, que em 1970, teve sua casa invadida e Chico levado para um centro de tortura. A prisão se deu por causa da obra Meninos de Biafra, exposta na segunda bienal. A obra criticava a mortandade de crianças da recente república africana e foi interpretada na época como uma crítica ao governo vigente. Alba movimentou os artistas da cidade para tirar o marido da prisão, que em poucos dias foi libertado. A mídia impressa foi importante para informar e mobilizar as pessoas pela soltura do artista.

A lembrança, exibe o caráter de resistência através da arte que Chico coloca em suas obras, em uma busca pelo que é legitimamente brasileiro e representativo da terra. “Tem palavras que você vai ver sempre no vocabulário dele: cultura brasileira, representatividade, essência, significados”, explica Cândida.

 

Nada de 24 frames por segundo

A bagagem adquirida por Chico dentro das artes plásticas ganha o movimento do cinema a partir de 1972, com seu primeiro curta, Anti-Strofe. Até Amarillis, lançado em 2016, Chico percebe a afirmação da linguagem cinematográfica estabelecida em suas obras, presente na busca por uma representatividade brasileira.

O processo de criação de Chico permanece quase inalterado. A folha de papel ofício ainda é a principal plataforma para a criação dos seus desenhos. A digitalização fica por parte dos membros da equipe de estúdio da Liberato Produções, localizada no bairro da Federação. A empresa familiar foi fundada em 1977 pelo casal Liberato. O objetivo era encontrar estabilidade financeira para a produção de animações. Hoje o estúdio é liderado por Cândida, responsável pela produção dos filmes do pai.

A literatura de cordel serviu como pilar para a construção das narrativas audiovisuais de Chico. “Percebi que a literatura de cordel é formada por desenhos fortes e que nossa força não tinha nada a ver com a Disney”, conta. A infusão de cores já presente nas obras plásticas do artista torna-se novamente presente no movimento da tela de cinema. Junto com ela, a música ganha lugar central, muito representada pelas cantigas sertanejas do músico baiano e amigo Elomar.

O tempo não linear tornou-se um traço marcante na narrativa, em nada parecido com as habituais animações do cinema comercial. “Ele sempre procura retratar o universo do ser humano, a mente, a psique, o espírito, que não são lineares. Temos vários dentro de nós”, conta Alba. A quebra de modelos não ficou restrita às histórias e personagens. Na técnica de produção, os 24 frames por segundo, antigo padrão utilizado em animações, foi subvertido. As obras de Chico Liberato trazem um número menor de frames, imagens fixadas em sequência que mudam de posição e criam a ilusão de movimento na animação. O artista utiliza uma média de 8 a 12 frames.

O desafio da falta de financiamento e de espaço para seus filmes, que não possuem caráter comercial, nunca desmotivou a forma de trabalho do artista. “Ele começou em uma época em que o cinema brasileiro de maneira geral, não só a animação, era autoral. Hoje a dificuldade que tenho é encontrar mecanismos que aceitem esse tipo de obra”, explica Cândida. Em 2012, o Festival de Animação Anima Mundi, considerou Boi Aruá, primeiro longa metragem de Chico e pioneiro na animação baiana, como a melhor obra de arte da animação brasileira, devido a representação da cultura do país.

Nas telas de pinturas e do cinema de animação, o cotidiano nordestino é apresentado para o mundo. Expressões de um artista baiano que encontrou em suas raízes princípios de vida e trabalho. “A memória faz com que a pessoa seja quem é. E a cultura é quem trás o conteúdo. Acho que quando abordamos a cultura brasileira isso enriquece a nós mesmos, pois toda a vez que abordo, enriqueço”, conclui Chico.

 

 

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